The Black Company

Dentre as coisas mais legais da série Game of Thrones está o fato de que o sucesso dela por aqui, tanto da produção da HBO como dos livros que lhe deram origem, está despertando o interesse do público para outras obras da mesma estirpe. Entre O Nome do Vento e sua continuação O Temor do Sábio, A Mão Esquerda de Deus, e o desconhecido (ao menos pra mim) O Trono do Sol, agora é um dos clássicos da literatura fantástica norte-americana que chega em edição nacional: A Companhia Negra. Casualmente é uma obra que eu já conhecia, pois li o primeiro livro ainda em inglês anos atrás, e acho que pode ser uma oportunidade bacana de fazer uma apresentação da dita cuja para quem não souber do que se trata.

Segundo o autor Glen Cook, a idéia para a série surgiu de uma inversão de papeis bem simples: e se os protagonistas da história não fossem os heróis lutando contra o feiticeiro(a) maligno(a) da vez, mas os capangas e soldados do segundo? Eis, então, a Companhia Negra do título: uma companhia mercenária, a última das Companhias Livres do mundo de Khavotar, que vende seus serviços a quem pagar melhor, constantemente aqueles com os valores morais mais questionáveis. Com mais de quinhentos anos de história, o primeiro livro começa no momento em que ela fecha um contrato de serviço com Lady, uma poderosa feiticeira desperta após ser aprisionada por quatrocentos anos, e que busca agora retomar o seu império perdido.

Quem narra tudo isso é Croaker, cronista atual da Companhia, que nos conta desde a viagem para as terras da sua nova empregadora até as primeiras batalhas épicas (espetacularmente épicas, por sinal) travadas em seu nome, passando pelo alistamento de novos soldados, intrigas entre seus súditos e uma profecia misteriosa que prevê a derrota final da vilã. Entre uma coisa e outra, dilemas, questionamentos e ambigüidades morais em profusão. A Companhia não é propriamente maligna, mas seus líderes são bastante conscientes e realistas quanto ao seu papel e a história que tem atrás do seu nome; se seus soldados constantemente discordam do seus empregadores, se chegam mesmo a torcer pela própria derrota, não deixam de cumprir as ordens que recebem e realizar os massacres que se esperam deles por isso.

Há também uma influência bastante forte de certas histórias de aventura com temas militares. O protagonista da história não é um personagem específico, não é Croaker, nem Lady, nem a White Rose de que fala a profecia, mas sim a Companhia como um todo, sendo os personagens que a compõem apenas membros com funções a cumprir dentro da entidade maior. Em uma simplificação bem grosseira, podemos dizer que funciona mais ou menos como uma espécie de Comandos em Ação ou (talvez mais adequadamente) Bastardos Inglórios de fantasia medieval.

É importante destacar, em todo caso, que Cook não é exatamente um gênio da prosa. Até a aposentadoria como funcionário da General Motors, sequer era um escritor em tempo integral, e isso é visível no seu estilo: o texto é bastante truncado, e algumas passagens importantes acabam sendo apressadas demais. Some ainda os capítulos grandes e as letras pequenas da minha edição pocket, e ela acabou sendo uma leitura bastante cansativa. Por isso, talvez não seja mesmo uma obra que tenha envelhecido tão bem nos trinta anos desde o seu lançamento original – por mais que seus personagens e tramas sejam interessantes, a fantasia suja e amoral que era o seu grande trunfo então, relativamente livre dos idealismos que sempre caracterizaram o gênero, hoje em dia já é lugar comum, e possui um punhado de obras mais recentes e melhor executadas, entre elas o próprio Game of Thrones.

Mas deixo isso pra quem ler decidir. No geral, ainda é um lançamento interessante, pela importância da obra e que vale uma conferida para quem quiser conhecer uma fantasia suja precursora de A Guerra dos Tronos, mas ainda assim bastante única e original. Agora, se eu puder dar uma opinião bem pessoal, das séries do Cook eu acharia legal mesmo ver por aqui os Garrett Files

2 Respostas to “The Black Company”


  1. 1 João Paulo de Sousa (@moreaudobodejr) 02/08/2012 às 22:17

    Já tinha visto o Tio Nitro falando desse livro há um bom tempo atrás. Na época achei interessante, mas ainda tenho muita preguiça pra ler algo em inglês (tenho que fazer o teste logo)
    Agora que chegou em pt, e num preço bom, me sinto obrigado a comprar 😛

    São quantos livros e quais tu já leu?

    • 2 Bruno 02/08/2012 às 22:25

      São acho que nove livros por enquanto, e o autor diz que tem interesse em escrever pelo menos mais dois… Mas não é uma saga contínua, tipo Game of Thrones, são vários arcos separados (os Livros do Norte, os Livros do Sul e The Glittering Stone, por enquanto). E eu li só o primeiro livro, que eu resenhei aí mesmo 😛


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Sob um céu de blues...

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