O valente cavaleiro atravessou a floresta de espinhos, adentrou as muralhas guardadas por gárgulas, enfrentou o dragão, subiu a torre mais alta do castelo, derrotou a bruxa maligna. Chegou, enfim, ao seu objetivo: o quarto onde dormia a princesa enfeitiçada.
Entrou e se aproximou, decidido, da cama onde repousava o corpo. Como era bela, a princesa! Tinha as feições de um anjo de porcelana, os olhos fechados em uma melancolia angustiante, e longos cabelos dourados que caiam da extremidade da cama até suavemente tocar o chão. O cavaleiro ajoelhou-se e, com a mão direita, segurou a mão da moça, levemente levantando-lhe o busto com o outro braço.
Um trio de borboletas voou até a torre, deixando para trás um rastro de pó brilhante, e pousou na base janela, de onde observavam atentas o que se passava. O cavaleiro aproximava lentamente o rosto da princesa do próprio rosto, fechando os olhos à medida que seus lábios se tocavam.
Ela abriu os olhos, surpresa.
E ele abriu os olhos, ainda mais surpreso. O rosto contorceu-se numa expressão de asco; se afastou num gesto brusco, deixando-a cair novamente sobre a cama, e cuspiu inúmeras vezes no chão, tentando se livrar do gosto nauseante que a boca dela havia acumulado em anos de sono ininterrupto. Por fim, saiu correndo da torre, atrás de algo fresco para beber.
0 Respostas to “A Bela Adormecida”