O deserto se abria como uma flor, as pétalas de vazio se expandindo para todos os lados e direções. O sol brilhava no céu sem nuvens, emanando calor e turvando a visão daquela imensidão desolada. Abutres esqueléticos brigavam pelos últimos fiapos de carne que ainda restavam nos conjuntos de ossos perdidos pelo caminho. Apenas a sombra negra da torre no horizonte parecia ter algum tipo de vida, se erguendo ameaçadora em direção aos céus como um dedo apontando em acusação.
O andarilho seguia a pé, percorrendo os quilômetros como que por inércia. Um manto em forma de losângulo cobria-lhe o corpo, escondendo os braços e os dois revólveres guardados em cintos cruzados na cintura. Tinha sobre cabeça um velho chapéu de couro, fiapos de barba por fazer salpicando o rosto, e um cigarro de palha pela metade pendendo entre os lábios. A cada passo que dava em direção à torre um novo abutre desistia dos ossos roídos e aumentava o seu rol de seguidores, esperançoso de que logo uma refeição fresca fosse servida.
Chegou, afinal, à base da torre sombria. Uma grade de barras de ferro enferrujadas e carcomidas o separava do lado de dentro, onde um homem olhava para o vazio, as gotas de suor escorrendo da testa até o queixo como linhas de um mapa rodoviário. O andarilho se aproximou em silêncio, sem desviar o olhar.
– Uma pizza grande, metade calabresa e metade quatro queijos. – disse, em um tom constante, as palavras saindo como balas em uma rajada de tiros de um revólver.
O homem do outro lado levantou os olhos lentamente, encarando o andarilho com um ar de indiferença.
– Trinta minutos. – respondeu devagar, como se degustasse cuidadosamente cada sílaba que dizia.
O andarilho puxou uma das cadeiras de madeira oca que havia ao lado, sentou e esperou.
1 Resposta to “A Torre Sombria”