Arquivo para setembro \29\-03:00 2009

A Vida de Billy

Billy trabalhava no grande prédio do relógio no centro da cidade. Vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana, era sua função fazê-lo funcionar, girando com os dentes sorridentes entrelaçados aos dos colegas, num ritmo constante que mantinha os habitantes locais seguros em relação à hora certa. Sim, Billy era uma engrenagem muito eficiente e feliz, e assim o foi por muito tempo desde que fora encaixado na grande máquina.

Tudo mudou, no entanto, quando, certo dia, em uma de suas voltas incessantes, ao virar para cima, Billy reparou no grande cuco de madeira recém instalado no relógio. Foi quando pela primeira vez a viu: Clarabela, uma das novas engrenagens, girando ao meio-dia para avisar a chegada do horário de almoço aos moradores da cidade. E como era bela, a Clarabela! Os parafusos de Billy brilhavam a cada volta que dava, tão límpida e graciosa ao girar como um anjo bailarino no alto da torre, enquanto ele permanecia lá embaixo, preso ao seu velho mecanismo sujo e gasto.

Os dias seguintes passaram num misto de êxtase e antecipação. Aguardava ansioso por cada oportunidade que tinha de ver Clarabela; cronometrava as voltas que realizava, contando os segundos para saber quando a encontraria, movendo o cuco no alto da torre. As outras engrenagens riam e debochavam da sua paixão distante, mas Billy pouco se importava – apenas vê-la e imaginá-la e sonhar com ela já bastava ao seu humilde coração em rotação.

Mas os giros de Billy não eram sincrônicos aos de Clarabela, e logo veio o dia em que não podia mais vê-la. Sempre que ela se movia para fazer funcionar o cuco, ele estava virado para outro lado, ou com uma engrenagem em um nível superior bloqueando a visão. Seguiram-se, assim, dias tortuosos: há muito já se acostumara a esperar apenas algumas horas pelo raio de luz que fazia a vida valer a pena; agora, seriam semanas até que suas voltas sincronizassem novamente. Começou a acelerar os movimentos, girando mais rápido que os colegas, apressando também o seu próximo encontro; o seu esforço logo adiantou o relógio da torre em quase uma hora, chamando a atenção dos funcionários da prefeitura.

“Viu o que você fez?”, disseram os colegas após a primeira inspeção dos técnicos, “agora eles irão trocar a todos nós!” Billy entrou em desespero ao perceber o fato – não poderiam levá-lo para longe de Clarabela; não se deixaria levar. Naquela mesma noite, se soltou do parafuso que o mantinha preso ao mecanismo do relógio, e iniciou a grande escalada em direção ao Éden angelical onde vivia sua musa.

Subiu sobre uma engrenagem, e duas, e três, em cada uma ouvindo reclamações sobre aquela jornada insana tão claramente fadada ao fracasso. Mas que importava para ele? Apenas se agarrava com todas as forças à esperança tremulante de estar junto de Clarabela, fosse pela eternidade com que sonhava, ou pelo mísero segundo que já valeria todo o esforço empreendido.

Subiu mais uma, duas, três engrenagens. Apenas mais algumas e atingiria seu objetivo; quase podia sentir um coração mecânico batendo dentro de si a cada volta que dava. Mas não contava com o mau-humor – ou a inveja? – de uma engrenagem dos níveis superiores, que, ao senti-lo passar, se deixou girar e o fez perder o equilíbrio, atirando-o ao chão.

Billy caiu ao nível mais baixo da torre, estático e arrasado. No dia seguinte, os funcionários do relógio o encontraram e o jogaram no entulho nos fundos do prédio, junto com as outras peças velhas que trocaram.

O Ritual

O carneiro amarrado berrava sobre o altar de pedra, ciente do destino que o aguardava. Um homem em um manto negro se aproximava pelo lado, sem tirar os olhos dele, em passos cuidadosos e ritmados, enquanto murmurava uma melodia em tons graves. Parou quando chegou ao lado do animal; retirou de dentro do manto um punhal com a ponta levemente encurvada e começou a afiá-lo na pedra do altar.

Cada passada do instrumento na pedra era acompanhada por uma palavra em uma língua desconhecida, o som próximo a um urro gutural, e um aumento no desespero da vítima. Quando estava pronto, o homem olhou nos olhos do animal, segurou-o e apertou-o pelo pescoço até ser capaz de ver a jugular pulsando sob suas mãos, e, em um movimento rápido, degolou-o, deixando o sangue escorrer sobre o altar e para o chão.

O homem parou por alguns minutos, os olhos vazios de emoção, segurando a cabeça silenciosa do carneiro enquanto o sangue escorria. Então soltou o animal e correu para o computador na sala ao lado. A empolgação logo tornou-se decepção: ainda não havia slots disponíveis para realizar o download.

Era hora de trocar de deus.

A Liga dos Economistas Extraordinários

O mercado está em perigo! Escassez, o gênio do mal, ameaça gravemente a população, atacando-a com seus capangas e criaturas terríveis, como o Dragão da Inflação e o Monstro do Desemprego. Apenas um grupo de heróis economistas poderá detê-lo, usando seus incríveis poderes de reflexão e interpretação da sociedade – a incrível Liga dos Economistas Extraordinários!

Liga dos Economistas(1)
adamsmithAdam Smith, o surpreendente Mão Invisível (NP 7)
For 14 (+2) Des 14 (+2) Con 14 (+2) Int 18 (+4) Sab 16 (+3) Car 14 (+2)
Res +2 For +5 Ref +8 Von +8
Feitos: Armação, Ataque Atordoante, Ataque Furtivo 3, Avaliação, Distrair (Blefar), Esconder-se à Plena Vista, Evasão
Perícias: Blefar 6 (+8), Conhecimento (atualidades) 6 (+10), Conhecimento (ciências comportamentais) 10 (+14), Conhecimento (história) 6 (+10), Conhecimento (educação cívica) 8 (+12), Diplomacia 8 (+10), Furtividade 6 (+9), Notar 6 (+9), Profissão (burocrata) 8 (+11)
Poderes: Invisibilidade (total contra todos os sentidos visuais)
Combate: Ataque +8, Dano +2 / +6 (furtivo), Defesa 16, Iniciativa +2
Atributos 30 + Salvamentos 14 + Feitos 9 + Perícias 16 (64 graduações) + Poderes 8 + Combate 28 = 105pp
Para Adam Smith, tudo ocorre como se uma mão invisível guiasse os rumos do mercado. O que poucos sabem, no entanto, é que essa mão é a do próprio Smith, usando seus incríveis super-poderes! Escocês de nascimento, burocrata do glorioso Império Britânico, defende os valores da igualdade, da liberdade, e, acima de tudo, da propriedade privada.

marxKarl Marx, o misterioso Multi-Proletário (NP 9)
For 14 (+2) Des 14 (+2) Con 16 (+3) Int 18 (+4) Sab 16 (+3) Car 16 (+3)
Res +3 For +6 Ref +5 Von +8
Feitos: Assustar, Inspirar 2, Oponente Favorito (burguesia) 2, Parceiro 12, Presença Aterradora 4, Sorte
Perícias: Conhecimento (atualidades) 14 (+18), Conhecimento (ciências comportamentais) 8 (+12), Conhecimento (história) 6 (+10), Diplomacia 2 (+5), Intimidar 6 (+9/+11*), Intuir Intenção 4 (+7/+9*), Notar 4 (+7/+9*), Profissão (jornalista) 4 (+7)
Poderes: Duplicação 8 (Horda +1 – 3pp/grad; Progressão 3 [até 10 cópias], Sacrifício)
Combate: Ataque +6 / +8*, Dano +2 / +4*, Defesa 18, Iniciativa +2
*contra a burguesia
Atributos 34 + Salvamentos 11 + Feitos 22 + Perícias 12 (48 graduações) + Poderes 28 + Combate 28 = 135pp

Friedrich_EngelsFriedrich Engels, o espetacular Intelectual Prodígio (Nível de Parceiro 12)
For 12 (+1) Des 14 (+2) Con 14 (+2) Int 16 (+3) Sab 14 (+2) Car 14 (+2)
Res +2 For +5 Ref +4 Von +6
Feitos: Benefício 2 (riqueza), Oponente Favorito 2 (burguesia)
Perícias: Conhecimento (atualidades) 6 (+8), Conhecimento (ciências comportamentais) 6 (+9), Conhecimento (história) 8 (+11), Diplomacia 6 (+8), Intuir Intenção 2 (+4/+6*), Notar 4 (+6/+8*)
Combate: Ataque +4 / +6*, Dano +1 / +3*, Defesa 14, Iniciativa +2
*contra a burguesia
Atributos 24 + Salvamentos 8 + Feitos 4 + Perícias 8 (32 graduações) + Combate 16 = 60pp

Karl Marx é legião. Incitador político, crítico da opressão e da dominação burguesas, ideólogo do comunismo e das revoltas proletárias, seu poder é o da multiplicação, rapidamente se convertendo em uma turba enfurecida para esmagar seus adversários. Junto com seu parceiro Friedrich Engels, no entanto, é uma figura controversa, cujos métodos e idéias não são plenamente aceitas pelos demais membros da Liga, e cuja presença costuma ser vista como uma ameaça pelos próprios mercados que a equipe tenta salvar.

ArticleWeberMax Weber, o fabuloso Acumulador (NP 8 )
For 14 (+2) Des 14 (+2) Con 14 (+2) Int 18 (+4) Sab 16 (+3) Car 14 (+2)
Res +6* For +9 Ref +6 Von +8
Feitos: Ataque Poderoso, Atropelar Aprimorado, Derrubar Aprimorado, Durão 4, Tolerância
Perícias: Conhecimento (atualidades) 10 (+14), Conhecimento (ciências comportamentais) 12 (+16), Conhecimento (história) 10 (+14), Intimidar 4 (+6), Notar 6 (+9)
Poderes: Absorção 8 (Fortalecer [Densidade]; Armazenagem de Energia +1, Ímã de Poder +1, Limitado (apenas capitais) -2 – 4pp/grad; Dissipação Lenta [1 minuto/10 rodadas])
Combate: Ataque +6, Dano +2*, Defesa 16, Iniciativa +1
**a Resistência e o Dano podem aumentar conforme Weber acumula capital, recebendo graduações do poder Densidade, até os limites normais do NP
Atributos 30 + Salvamentos 16 + Feitos 8 + Perícias 9 (36 graduações) + Poderes 33 + Combate 24 = 120pp
Max Weber era apenas um economista político e pioneiro da sociologia alemã comum, até receber uma revelação divina: o próprio Espírito do Capitalismo desceu à Terra, tomando-o como hospedeiro! Invocando seus poderes como uma espécie de xamã, Weber se tornou capaz de abosrver e acumular grandes quantidades de capital, aumentando sua densidade e força a níveis sobre-humanos, para então acabar com seus inimigos com seu uso legítimo do monopólio da violência.

dn16786-2_300John Maynard Keynes, o magnífico Barão Keynes (NP 10)
For 10 (0) Des 12 (+1) Con 12 (+1) Int 34 (+12) Sab 28 (+9) Car 18 (+4)
Res +1 For +5 Ref +6 Von +14
Feitos: Avaliação, Bem-Relacionado, Benefício (status), Esforço Supremo (salvamentos de Vontade), Esquiva Fabulosa, Memória Eidética, Plano Genial
Perícias: Blefar 6 (+10), Concentração 12 (+21), Conhecimento (atualidades) 10 (+22), Conhecimento (ciências comportamentais) 10 (+22), Conhecimento (história) 8 (+20), Conhecimento (negócios) 10 (+22), Diplomacia 8 (+12), Intuir Intenção 8 (+17), Notar 8 (+17)
Poderes: Telepatia 10 (Poderes Alternativos: Controle Mental 10, Rajada Mental 5), Super-Sentidos 14 (cancela Permante +1, Duração -2/concentração – 1pp/2grad; visão estentida 5, percepção econômica, poscognição, precognição)
Combate: Ataque +5, Dano +5 (Rajada Mental), Defesa 18, Iniciativa +1
Atributos 54 + Salvamentos 14 + Feitos 7 + Perícias 20 (80 graduações) + Poderes 29 + Combate 26 = 150pp
John Maynard Keynes, o Primeiro Barão de Keynes, é o teórico do controle estatal da economia e do estado de bem-estar social. Para ele, deve haver um intervencionismo pesado do Estado, através de políticas monetárias e fiscais, que dome o mercado e diminua os efeitos dos seus ciclos de recessão e depressão – o que fica muito mais fácil, é claro, com a ajuda dos seus incríveis poderes mentais, incluindo a capacidade de ler e controlar pensamentos, bem como a sua fabulosa Visão Macroeconômica, capaz de identificar problemas econômicos distantes, passados ou futuros!

04016Milton Friedman, o incrível Homem-Mínimo (NP 7)
For 12 (+1) Des 16 (+3) Con 14 (+2) Int 18 (+4) Sab 16 (+3) Car 14 (+2)
Res +2 For +5 Ref +9 Von +6
Feitos: Bem-Relacionado, Iniciativa Aprimorada
Perícias: Blefar 4 (+6), Conhecimento (atualidades) 10 (+14), Conhecimento (ciências comportamentais) 8 (+12), Conhecimento (história) 8 (+12), Conhecimento (negócios) 12 (+16), Diplomacia 6 (+8), Furtividade 6 (+9/+29*), Notar 6 (+9)
Poderes: Encolhimento 20 (Tamanho Atômico, Golpe em Crescimento)
Combate: Ataque +8 / até +20*, Dano +1 / até -4 (tamanho mínimo) / até +6 (Golpe em Crescimento), Defesa 18 / até 30*, Iniciativa +7
*encolhendo até o tamanho mínimo; a diferença não modifica o NP
Atributos 22 + Salvamentos 12 + Feitos 2 + Perícias 15 (60 graduações) + Poderes 22 + Combate 32 = 105pp
Milton Friedman é um defensor da liberdade individual e da democracia. Em constante conflito de idéias com o Barão Keynes, o Estado para ele deve ter o mínimo tamanho necessário, sem intervir diretamente na economia – e esse minimalismo é também a origem dos seus poderes: o de encolher até a escala atômica, tornando-se quase imperceptível aos adversários!

A Revolução Numérica

Dizem que tudo começou em uma quinta-feira de agosto pela manhã, quando o Prof. Dr. Ernest Blamingham, do Instituto de Matemática de Cambridge, Inglaterra, trabalhando em uma de suas equações matinais, tentou somar 2 e 2 e, por algum motivo, não conseguiu achar uma resposta. Pensou e refletiu por horas, repetindo o cálculo, até que, enfim, chegou a um resultado: 357,23. Espantado, ligou para um colega, que também relatou resultados absurdos que estava obtendo em operações simples; e para outros e outros colegas, todos descrevendo situações semelhantes. Logo o problema já estava na boca do povo, e era notícia em todos os lugares do mundo: a matemática havia enlouquecido!

Na verdade, diversas horas antes, em um pequeno armazém de um bairro pobre em Bombaim, na Índia, o problema já havia sido destacado por um dos clientes, que foi obrigado a pagar 50 mil rúpias por um pedaço de pão após uma longa discussão com o vendedor, que eventualmente o convenceu de ser a vontade de Visnu que um dalit como ele pagasse tal valor. O governo chinês anunciou posteriormente que também lá o problema já havia sido notado, mas não fora noticiado por suspeita de envolvimento de grupos rebeldes que visam a liberação do Tibete; e é possível que no Japão a situação também já fosse semelhante, mas ninguém havia reparado pois estavam todos ocupados jogando videogames e realizando seus alongamentos matinais junto aos colegas de empresa.

O fato é que os números haviam se revoltado: se rebelaram contra a matemática, esta rainha tirânica que por tanto tempo os havia governado, impondo um regime mecânico e totalizante sobre suas vidas. Mas não mais – naquele dia, sob o comando de um grupo para-militar de dezenas, todos haviam enfim se libertado das amarras da exatidão, e estavam livres para viver como bem entendessem. 2 e 2 não mais seriam 4; a raiz quadrada de 3 seria 7; e Pi poderia decidir, em uma manhã de sábado chuvoso, ser igual a 6,444, ou então, em um domingo ensolarado à tarde, 2,15648.

A humanidade se dividiu a respeito da situação. A economia entrou em colapso, sem uma base de números exatos sobre os quais se fundamentar; empresas que num dia eram mais poderosas que governos no seguinte beiravam a falência, enquanto fortunas se desfaziam ante a inconstância dos números que as representavam. Fome e miséria se espalhavam pelos países; nerds CDFs eram reprovados em provas escolares, ao contrário dos valentões de times de futebol, que mostravam orgulhososos suas novas notas aos pais; fortunas eram cobradas por balas de hortelã, enquanto quilos de ouro poderiam ser adquiridos por poucos centavos. E, entre o pânico e desespero geral, havia também aqueles que se sensibilizavam com a causa numérica – afinal, após tantos séculos de prisão e servidão aos nossos caprichos, como podíamos recusar a eles um momento sequer de liberdade como pagamento?

Foram meses de caos e desordem, até que finalmente, em uma pequena escola primária do interior de Gana, um professor de filosofia propusesse uma solução. O status de ciência exata da matemática foi revogado, e agora ninguém mais podia propor uma solução para uma equação sem antes desenvolver uma argumentação lógica e discussão teórica explicando por que os números e valores envolvidos deviam se comportar daquela forma, e possivelmente estaria ainda sujeito a toda sorte de críticas, contra-argumentações e contra-provas. Fazer matemática ficou mais complicado e trabalhoso, mas pelo menos era mais uma vez possível estabelecer uma base sobre a qual fundamentar a economia mundial – e, talvez o mais importante, sem precisar impôr um novo regime tirânico aos números, que podiam enfim gozar da doce liberdade após incontáveis eras de opressão.

Bleh (4)

Bueno, numa nota rápida, eu fiz um perfil no Skoob(-Doo?), quem quiser pode me adicionar lá e acompanhar algumas das coisas que eu li ou ando lendo. O link também tá ali na barra lateral, junto com meus outros perfis aleatórios em sites de relacionamentos e afins.

Também foi adicionado recentemente um sistema de classificação dos posts, agora é possível dar uma nota de 1 a 5 estrelas pra cada texto que eu publico aqui, e assim me dar uma noção de quais são os que as pessoas gostam mais. Quem quiser perder pode inclusive voltar e votar nos antigos, se tiver algum tempo pra perder, heheheh.

E, como sempre, tem mais uma meia-dúzia de links amigos ali do lado também, não deixem de dar uma fuçada neles se não tiverem o que fazer.

É isso então. ‘Te mais.

Spawn: Godslayer

SpawnGodslayerO Spawn é um dos super-heróis norte-americanos que mais facilmente se beneficia com reinvenções e adaptações, e a razão para isso é bastante simples: a sua origem é muito fácil de ser adaptada. Qualquer um pode fazer o mesmo pacto que o personagem principal da série fez, e receber poderes e obrigações semelhantes; assim, já surgiram Spawns em diversas épocas e com diversas características, desde a idade média até o velho oeste. E, por mais que a série em si tenha alguns elementos um tanto duvidosos, frutos da pior época dos quadrinhos norte-americanos, sem contar nos diversos problemas judiciais do autor Todd McFarlane com seus colaboradores, é difícil, para quem tem um gosto assumido pelo pastiche, não ter uma certa queda por essa característica. E Spawn: Godslayer, ainda, vai um pouco mais adiante nessa reinvenção, se desfazendo de toda a complexa mitologia desenvolvida em torno do personagem em anos de histórias para trazer de fato um novo universo inspirado no conceito da série.

No mundo retratado na história não existe Céu ou Inferno, que tinham um papel tão fundamental na série original, e a vida dos seres humanos é governada por diversos deuses, grandes ou pequenos – é, enfim, o seu típico mundo de fantasia épica, com a qual qualquer jogador de RPG deve estar bem acostumado. A missão – ou melhor, sina – do personagem principal, como o nome deixa a entender, é justamente a de matar estes deuses; é uma história interessante, que qualquer um com gosto pelo épico e pelo fantástico há de se interessar, e que reconstrói bem o mito do Spawn mantendo o seu conceito fundamental, o de ser um guerreiro amaldiçoado por um pacto demoníaco.

A arte usada para contar a história segue o padrão Alex Ross de ser, com um estilo ultra-fotográfico e elevado cuidado artístico, o que é um pouco como uma faca de dois gumes. Por um lado, é uma arte sem dúvida exuberante, que tem resultados mágicos em quadros grandes e panorâmicos; há páginas duplas belíssimas, como as da chegada do Godslayer pelo mar ou do despertar da serpente que guarda o templo da deusa, que dariam ótimos pôsteres e não fariam feio sendo exibidas em qualquer galeria de arte. Por outro, no entanto, falta movimento às imagens estáticas, o que torna difícil dar dinamismo à algumas cenas; isso é bastante visível nas cenas de ação, por exemplo, que ficam confusas em meio a tantos detalhes visuais.

De qualquer forma, Spawn: Godslayer ainda é uma história interessante, que, se não é a mais original e encantadora obra de quadrinhos dos últimos tempos, ainda deve fazer facilmente a cabeça de qualquer fã de metal sinfônico e mitolgia nórdica (o que é quase a mesma coisa, na maioria dos casos), e mesmo lá um ou outro fã de fantasia épica mais genérica (o que é mais próximo do meu caso, na verdade).


Sob um céu de blues...

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