Havia um risco na parede. Uma linha reta, horizontal, de poucos centímetros, cerca de dois metros acima do chão; nunca havia reparado. Quem teria feito? Teria sido ele? Ou já estava lá antes, mas apenas não o havia visto?
Virou para o lado, fechou os olhos. Abriu: o risco continuava lá. Mesma altura, mesmo tamanho, mesmo formato. O que achou que ia acontecer? Que ele ia desaparecer? Virou para o outro lado.
Virou de volta, rapidamente, como para pegar alguém de surpresa: o risco continuava lá. Agora já estava sendo ridículo; era melhor deitar e dormir de uma vez. Se acomodou, virou de lado outra vez, começou a fechar os olhos vagarosamente.
Se mexeu! O risco se mexeu! Andou um pouco para o lado, uma distância de milímetros, imperceptível. Ou teria sido a imaginação? Uma ilusão de ótica, as luzes da rua penetrando pelas frestas da janela; deve ter sido isso. Ele continuava lá, no mesmo lugar, e qualquer medição minuciosa com uma régua revelaria exatamente isso.
Medir o risco na parede com uma régua? No que estava pensando? Estava sendo ridículo de novo. Piscou os olhos algumas vezes, balançou a cabeça, soltou um suspiro.
O risco mexeu de novo! Ou não? Olhando com toda atenção que podia daquela distância, ainda parecia estar no mesmo lugar. Estaria ficando louco?
Não, não estava; era o sono, apenas isso. O sono enganando os olhos, pregando peças no cérebro. Mesmo que o risco se movesse, qual era o problema? Talvez fosse só uma fileira de formigas pequenas confabulando antes de retornar ao formigueiro, ou alguma larva inofensiva de outro tipo qualquer de inseto. Que mal poderia causar, um risco de poucos centímetros na parede?
Virou para o lado outra vez, se parabenizando por tanta imaginação, fechou os olhos, e dormiu.
Nunca mais acordou.
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