Arquivo para fevereiro \28\-03:00 2010

Rapidinha

Hoje, dia 28/02/2010, faz um ano que eu abri esse blog no wordpress. E é claro que eu, com meu déficit de atenção, só percebi quando faltavam menos 45 minutos pra passar batida essa data…

Enfim, não preparei nada de especial, não acho que seja um evento tão importante assim (tipo, é só uma data), mas vale essa notinha aqui. Agradeço a todos que tem visitado esse meu insignificante cantinho virtual nesse meio tempo, mantendo a média de mais de cem visitas por dia (quase metade pro meu textinho sobre Naruto, mas igual… =P), ao Willy, a Rafaela e o resto do pessoal que vez por outra larga uns comentários aí, ao Marlon que manda meus textos cheios de links pro Inominattus, e assim me rende umas visitas extras, ao pessoal das Iniciativas 3D&T e M&M, e também ao Ferdinando pelo gol do título da Taça Fernando Carvalho do Gauchão 2010. Espero ser digno da atenção de vocês durante esse próximo ano também.

Valeu.

O Mar

Chuáááá…. ChuááááChuáááá… As ondas chegam até a beira da praia, e voltam para o mar. O sol recém nasceu: apenas alguns metros de areia me separam do mundo, mas – ah! – quantos anos-luz parecem! Jamais seria longe o bastante, no entanto, e aquele momento eterno em que tudo faz sentido nunca dura o suficiente, nem a praia deserta no centro do universo é deserta o suficiente.

Tec tec tecTec tec tec… As teclas ecoam pela sala vazia. A música terminou: resta apenas o vácuo melancólico que se segue à última nota. Onde está o sol? Onde estão as dunas de areia que me protegem de tudo? Estou no meio do mundo, mas ao mesmo tempo tão distante. Aquele momento efêmero nunca é passageiro o bastante, e nada parece haver em mim além das ondas chegando até a beira da praia e voltando para o mar…. ChuááááChuááááChuáááá

O Viajante e O Tédio

Olhava as ondas de marasmo que quebravam na beira da praia, misturando-se aos grãos de estrela da areia cristalina. A lua vagava lentamente, levada pelo vento de um lado ao outro do horizonte, demorando-se sem pressa em cada segundo. E na rede ao lado se debatia, preso, o Tempo, buscando soltar-se e voltar à liberdade de nadar e passar sem restrições outra vez.

The Dark Tower

The Dark Tower (ou A Torre Negra, na versão nacional) é a über-saga do escritor norte-americano Stephen King, certamente o seu mais ambicioso e longo projeto, tendo levado quase trinta anos e sete livros para ser completada. Ela conta a história de Roland Deschain, o último pistoleiro da Afiliação, na sua busca pela mítica Torre Negra no centro do Mundo-Médio devastado, em uma aventura que mistura terror, ficção científica e fantasia de um jeito que não faria feio no currículo de qualquer escritor new weird da vida.

Bueno. Antes de seguir adiante, é importante deixar claro que eu não sou exatamente o maior dos fãs do trabalho do King. Não que ache ele um escritor ruim, muito pelo contrário – do pouco que havia lido antes da série, até achei coisas bem interessantes, e em geral acredito que ele tenha mais acertos do que erros. Apenas não é um autor que normalmente me chame a atenção, e, ainda que não pareça em um primeiro momento, isso faz bastante diferença para esta obra em especial. Além disso, explica também o fato de eu ter preferido ler os livros desta série em inglês, mesmo que existam edições nacionais relativamente recentes – por mais que eu tivesse curiosidade, ele simplesmente não é um autor que me faria pagar mais de 80 reais por um livro, ainda mais considerando que seria apenas um de sete. A faixa dos 15-25 reais por volume que eu paguei por cada um dos pockets importados, no entanto, está mais dentro do meu orçamento.

Enfim. A série abre com The Gunslinger (O Pistoleiro), que nos apresenta o protagonista e um pouco mundo fantástico que o cerca, em cinco pequenas novelas que, originalmente, foram publicadas separadas, antes de serem reunidas neste volume. Parece ser senso comum entre os fãs que este não é exatamente um grande livro, e que a história melhora nos volumes seguintes; pessoalmente, no entanto, eu achei ele o melhor dos sete. Por mais que seja bastante vago com respeito a própria busca principal, e realmente pareça um pouco devagar em acontecimentos quando se pensa na série completa, eu gostei da forma como ele se foca mais no clima e na ambientação, passando bem a desolação do Mundo-Médio devastado, sem contar naquela sensação de se estar lendo um spaghetti western dirigido pelo Sérgio Leone com o Clint Eastwood no papel principal – você quase consegue ouvir o Ennio Morricone regendo a trilha sonora. Ou, pensando em retrospecto, pode ter sido também o fato de ele ser apenas o primeiro livro, e a expectativa quanto às continuações ainda serem maiores que as possíveis decepções na leitura.

Em todo caso, The Drawing of the Three (A Escolha dos Três), o segundo livro, já começou me decepcionando um pouco pela forma como quebra esse clima que o primeiro criara tão bem, introduzindo novos personangens e abraçando de vez o tema das viagens dimensionais, que vai se tornar o grande mote da série. No fundo, no entanto, acho que era uma mudança inevitável – afinal, como escrever sete livros apenas sobre um homem atrás de uma torre? E conta a favor dele ainda o fato de que os novos personagens são interessantes e muito carismáticos, sendo um dos destaques da série a partir daí. The Waste Lands (As Terras Devastadas), o terceiro livro, é outro ponto alto, fechando o ka-tet de protagonistas com mais um personagem, além de apresentando mais detalhes do Mundo-Médio ao leitor.

Wizard and Glass (Mago e Vidro) é o quarto livro, e o ponto nodal da série por vários motivos. Primeiro porque apresenta, enfim, o passado de Roland, explicando como começou a sua busca pela Torre Negra; isso significa que, a partir daí, muito do ar misterioso que cercava o personagem se desfaz, acabando com um pouco do clima de O Estranho Sem Nome nos livros seguintes. A pausa para contar o seu passado até parece um desvio um pouco súbito, bem no momento em que a busca pela Torre deveria começar a esquentar, mas também era um pausa necessária, claro, e a história do jovem Roland é interessante (chegou mesmo a ser adaptada em uma história em quadrinhas da Marvel Comics, já lançada por aqui), apesar do ritmo lento e da justificativa final para a sua obsessão pela Torre ser um pouco capenga. Além disso, e talvez seja esse o ponto mais relevante, é aqui onde começam as chuvas de referências e auto-referências da série, que tomam de assalto os livros seguintes.

É no fim deste quarto volume, em especial, que a história começa a perder o rumo de vez, ao menos na minha opinião. Os três livros seguintes, Wolves of the Calla (Lobos de Calla), Song of Susannah (Canção de Susannah) e The Dark Tower (A Torre Negra), parecem ter sido escritos de um fôlego só, após o acidente que quase tirou a vida do autor (que chega mesmo a fazer parte da história do último volume, aliás), em uma corrida para terminar a série logo e tirar esse peso da consciência. O ritmo da história aumenta em velocidade e linearidade, com direito a cliffhangers sacanas no final de cada livro (incluindo até, pra quem quiser ser especialmente chato quanto a isso, o último). Ela ainda passa a ser repleta de desvios e pausas no enredo principal que parecem desnecessários, e você tem a impressão que a busca pela Torre levaria metade do tempo se a narrativa não tivesse que parar a cada meia-dúzia de capítulos para contar a história da infância de um novo personagem.

O que mais prejudica estes últimos livros, no entanto, é a forma como muitas situações têm desfechos realmente frustrantes, recorrendo quase o tempo todo à onipotência do ka (um conceito próprio do livro, que, em uma simplificação grosseira, pode-se dizer que é sinônimo a destino) para que tudo acabe bem, forçando bastante a boa vontade de quem lê. Algumas idéias e conflitos realmente bons acabam sendo desperdiçados dessa forma, e em um determinado momento a própria narrativa chega a anunciar: o Deus Ex-Machina está chegando!

Enfim, à parte de alguns defeitos bastante marcantes, não posso realmente dizer que a série seja abominável, e que ninguém deveria lê-la. Há muito o que gostar nela sim, dependendo do que se está procurando – todos os personagens principais são muito carismáticos, e a presença deles por vezes vale a leitura em momentos que poderiam ser descartáveis; além disso, para quem gosta de fantasia estranha e pastiches criativos, o que é bem o meu caso, há muitos elementos interessantes no cenário, uma espécie de faroeste pós-apocalíptico com temas arturianos. Fanboys e aficcionados em geral pelo trabalho do Stephen King, ainda, têm boas chances de terem orgasmos múltiplos durante a leitura, dada a quantidade de auto-referências e a forma como a obra tenta unir os livros dele em um mesmo universo. Apenas a história em si pode ser bastante frustrante algumas vezes, sobretudo na metade final, o que me impede de simplesmente recomendá-la para qualquer um.

007 Quantum of Solace

Eu costumo falar bastante da Grande Roda da Cultura Pop, em que o populacho de hoje se torna o cult de amanhã e o nostálgico de depois de amanhã, geralmente me referindo à música, mais especificamente à relação muito suspeita que existe entre o blues e o rock. A idéia, no entanto, é aplicável a quase qualquer mídia – você pode vê-la na literatura, por exemplo, onde Charles Dickens, José de Alencar e outros cultos que hoje se deve ler obrigatoriamente na escola começaram como o equivalente do século XIX da novela das oito; e também no cinema, onde talvez o melhor exemplo sejam os westerns que começaram como a matiné dos anos 40, passaram pelo declínio e o revival nos anos 60, e hoje já são quase um gênero de cinema de arte.

E também o cinema de ação, vejam só, dá sinais de estar sujeito aos efeitos da Roda. É algo que eu comento há algum tempo já, quando falo com alguns amigos, por exemplo, sobre a carreira ignorada do Stallone nas últimas década, com ótimos filmes que ninguém viu como Shade ou O Implacável; e até o Oscar já foi dado recentemente para Os Infiltrados, que nada mais é do que um filme de ação policial, baseado, inclusive, em um filme de ação chinês (que é muito mais sério e violento, aliás, do que a comédia que acabou virando a versão americana graças ao Jack Nicholson). E, claro, nem preciso citar a maravilhosa trilogia Bourne, que redefiniu todos os paradigmas do cinema de ação recente.

A questão é que cinema de ação já deixou há algum tempo de ser apenas sobre heróis transbordando testosterona passando por explosões e tiroteios em roteiros decorativos indisfarçadamente reacionários e conservadores. Não, ele hoje quer ser sério e crítico; quer falar de política e posar de inteligente, e não apenas divertir acerebradamente. O que não é necessariamente ruim, claro, apesar de ser curioso – vide aí os últimos filmes do James Bond, justamente um dos pilares do cinema de ação de entretenimento.

Esqueça a canastrice do Sean Connery, as piadinhas do Roger Moore, a impassividade do Pierce Brosnan; o Bond de Daniel Craig em Quantum of Solace, como já em Casino Royale, quer mesmo é ser Jason Bourne. Quer usar roupas casuais e ter combates corporais e perseguições à pé em ambientes urbanos com enquadramentos de câmera impessoais, enquanto se vira praticamente sozinho contra conspirações institucionais internacionais. Os magnatas megalomaníacos com um satélite de raio da morte e um plano de dominação mundial dão lugar a traficantes de armas e filantropos sem carisma com pouco tempo de tela, e Bond girls chegam mesmo a ser dispensadas sem sequer aquela tórrida noite com o herói. O novo Bond sequer se dá ao luxo de se apresentar aos inimigos com o famoso Bond, James Bond.

É um pouco estranho ver um James Bond com tanta personalidade, não exatamente no bom sentido. Não é mais o espião impassivo que todos aprendemos a invejar, que troca de mulheres como quem troca de bebida e acaba com os planos de um milionário megalomaníaco por mês; ele agora chora por amores passados, e os adversários que enfrenta não passam capangas de alguma sombra maior que nunca aparece de fato. Ou, pelo menos, não até o próximo filme, já que agora eles têm uma certa continuidade, não sendo apenas episódios fechados.

Mas, claro, para alguém que não se importe com este não ser o Bond de sempre, ele também tem lá as suas virtudes – é brutal e violento como nenhum outro antes, e sobrevive a algumas cenas de ação e explosões até empolgantes (ou talvez seja só a minha queda conhecida por cenas de combates aéreos), ainda que o roteiro em si seja bem menos inteligente do que pretende. O novo James Bond, enfim, pode não ser o melhor deles, mas também não é necessariamente ruim – é certamente diferente, mas um James Bond mesmo assim.

Uva

Nasceu presa, entre milhares de iguais; para onde quer que virasse havia apenas aquele sufocante mar de semelhança. Mal havia espaço para se mover, quando muito para ser diferente, e assim foi durante os primeiros meses de vida. Até que finalmente a libertam: uma mão salvadora a resgatou e levou-a, solta, até o seu lugar ao sol, onde poderia ser única e especial. E então, quando finalmente livre, secou.


Sob um céu de blues...

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