O ônibus pára, e ele sobe. Paga o cobrador com o cartão de vale-transporte e olha para os assentos na sua frente: apenas um está vago, ao lado de uma garota aparentemente da sua idade. Com calma, caminha até lá e senta.
Ela está olhando para a janela, pensativa, até perceber ele sentando ao seu lado. Aparenta ter a sua idade, aproximadamente. Com o canto do olho procura ver o seu rosto mais de perto, tentando não ser percebida.
Mas ele percebe, mesmo fingindo que não. Disfarça olhando para o corredor, observando os passageiros à frente. O ônibus pára em outro ponto, e mais alguns sobem. Quando volta à andar, ele olha para o lado, buscando o rosto dela enquanto finge olhar para a rua.
Ela vê quando ele disfarça o olhar, desviando-o para os carros do lado de fora. Como quem não se importa, apenas vira também para a rua. O ônibus pára mais uma vez, e ela vê quando ele olha para uma nova passageira andando pelo corredor. Vira para a janela outra vez, esforçando para manter a expressão de desinteresse.
O ônibus segue sua viagem, e ele, com cuidado, olha para ela mais uma vez. Ela ainda olha para a rua, e ele se vira para a frente novamente. Ela, discretamente, tenta ver o rosto dele outra vez, a expressão séria olhando para o chão entre os pés. Vira-se novamente para fora.
Mais um ponto, e mais passageiros sobem. Ela arruma o vestido simples e se aproxima dele, movimentando tremulamente os lábios junto ao seu ouvido:
– Com licença, por favor.
Ele se vira e a olha, se movimentando para que ela possa passar. Ainda a observa rapidamente, caminhando até a saída, antes de virar novamente para a frente e dar lugar para que outro passageiro possa sentar.
Ela caminha até o fim do veículo, aperta o botão para sinalizar ao motorista e espera em frente à saída. Olha para ele mais uma vez enquanto espera o ponto chegar; a porta então se abre, e ela desce.
Muito foda. Curto muito esses lances simples da vida.
Isso aí parece um roteiro dessas HQ’s minhas…