Faz acho que uns três ou quatro anos que eu descobri meio por acaso a página no MySpace da Florence + The Machine, banda inglesa encabeçada pela cantora Florence Welch. Na época ele era um site quase amador, com poucas fotos e produção, mas foi o suficiente pra me chamar a atenção, em especial por uma das poucas músicas disponíveis, Girl With One Eye. O vocal em crescendo épico, a base levada por uma guitarra limpa, sem distorções… Foi paixão à primeira ouvida. E agora eu de repente descubro que ela se tornou o hype musical do momento, após o lançamento em 2009 do seu primeiro disco, Lungs, e da inclusão de uma das suas músicas na trilha sonora da série vampiresca (sic/sci-fi) Crepúsculo no cinema.
Pelo bem da avaliação, é claro, vou ignorar o segundo fato e me concentrar no primeiro. Lungs definitivamente merece o hype que recebeu: é um disco excelente, com grande qualidade técnica e uma energia que tem feito falta na indústria musical recentemente. Músicas como Kiss With a Fist (cuja letra soa quase como um conto do Charles Bukowski) e Rabbit Heart (Raise It Up) têm o DNA tradicional do rock independente britânico, a mesma linhagem de onde vieram Oasis, Blur, The Libertines e tantos outros, enquanto baladas como a carnal Between Two Lungs e My Boy Builds Coffins são deliciosas de ouvir. Some-se ainda arranjos de uma criatividade como há tempos não se vê na música pop, perdida em meio a todas essas batidas dançantes e genéricos de divas; Florence, ao contrário, abre espaço para harpas e instrumentos diversos de percussão, resultando em algumas pérolas como Cosmic Love e Hurricane Drunk.
E acima de tudo, é claro, temos a voz que guia a banda. Florence é dona de um vocal técnico e poderoso, e, talvez por estar ainda no início da carreira, não possui os vícios de tantos outros semelhantes. Ao invés de um virtuosismo vazio, onde o objetivo parece ser apenas o de atingir a nota mais alta e pouco importa se ela está em harmonia com o resto dos instrumentos, a voz está aqui a serviço da música, buscando de fato se encaixar nos arranjos e ser um diferencial entre eles, não o astro maior que concentra todos os holofotes. Basta ouvir The Dog Days Are Over ou a já citada Girl With One Eye para entender o que eu quero dizer.
Enfim, Lungs é um disco fantástico, que eu recomendo muito para quem, como eu, já tenha perdido a fé na música contemporânea.
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