Eeeee Eee Eeee é um livro… Esquisito. Começando pelo nome: é uma transcrição do som que os golfinhos fazem, como uma onomatopéia mesmo, e que por razões que ficarão claras mais adiante surgem mais de uma vez ao longo do texto. Para além disso, ele conta a história de Andrew, um jovem nos seus vinte e poucos anos que trabalha como entregador em uma pizzaria Domino’s e basicamente não tem muitas perspectiva de futuro, exceto chorar a perda da ex-namorada, jogar pôquer e comer sushi com um antigo amigo de escola, e passar as madrugadas escrevendo histórias curtas. Até o fim do livro ele terá tido a vontade de sair em uma cólera assassina uma dúzia de vezes, encontrará animais falantes como ursos, golfinhos e alces, que por sua vez assassinarão celebridades como Elijah Wood, Salman Rushdie e Wong Kar-Wai, e ouvirá uma lição de moral do presidente dos Estados Unidos em um restaurante japonês, mas não mudará efetivamente nada em sua vida.
Resumindo, portanto, é um livro que sai do nada e vai para lugar nenhum – e essa é, na verdade, a sua grande qualidade. Entre a primeira e última frases o que se tem é uma crônica muito sincera de um estado de espírito, o dia-a-dia de vidas sem rumo e em depressão verdadeira, aquela que não é uma mera tristeza profunda, como quem nunca passou por isso parece achar que é, mas sim uma falta de vontade e de energia para viver. Se as aparições de animais falantes com poderes mágicos parecem absurdas e gratuitas, na verdade isso é um reflexo do próprio absurdo que é a vida aos olhos desses personagens – um mundo onde um golfinho pode matar uma celebridade a pauladas em uma ilha deserta e isso ser visto como algo banal, sem qualquer significado.
Nisso pode-se dizer que o livro lembra algo de um Charles Bukowski na última potência, com seus personagens vazios e marginalizados, a sujeira barrada no filtro do “sonho americano,” mas aqui longe das bebidas e das mulheres que disfarcem o seu fracasso. Mesmo o estilo do texto lembra um pouco as descrições cruas e frases curtas do velho safado germano-americano, que podem ser facilmente confundidas com descuido literário, mas que estão na verdade sempre certeiras no seu posicionamento, sem excessos nem arestas mal aparadas. Se a ação é truncada, com mais pontos finais do que vírgulas, é porque é assim também que os personagens se sentem quando fazem alguma coisa, repletos de incertezas e hesitações; e quando estas hesitações desaparecem temos algumas passagens de brilho verdadeiro, enquanto o autor discursa sobre a solidão, a natureza da consciência, e o que é, afinal, a felicidade.
No fim, certamente não vou dizer que Eeeee Eee Eeee seja um livro recomendado sem ressalvas para qualquer um. O estilo único demais e a falta de uma direção no enredo devem entediar e afastar a maioria dos leitores. Comigo, no entanto, ele ressoou de forma bastante forte, me remetendo à minha experiência pessoal e a forma como eu encarava a vida até não muito tempo atrás, que deixou feridas ainda abertas e lacunas profundas na forma como eu me relaciono com outras pessoas. Se, como eu refleti em outro momento, vivemos mesmo na Era da Depressão, talvez o autor Tao Lin seja o cronista mais sincero desta geração.
Nunca tinha\ ouvido falar. Me interessei. Será que tem na cultura? Muito bom o blog. Conseguir sentir a essência e “ver a verdade” por ele. Parabéns.
Tô esperando seu comentáriozinho no meu, aproveita, que tem uma promoção super fácil pra você ganhar. Beijos.
Com certeza tem na Cultura, foi lá que eu comprei. =P Valeu o comentário, mais tarde dou uma passada no teu blog sim.
existe edição desse livro em português?
Não que eu tenha conhecimento sobre…