Arquivo para janeiro \20\-03:00 2013

A Escolha de Pégaso

pegaso– E então, Pégaso, fez a sua escolha? – a voz poderosa ressoava pelas paredes do aposento, como se viesse de todos os lugares e lugar nenhum ao mesmo tempo.

Fora difícil, mas, afinal, depois de refletir, de pesar as consequências, de considerar todas as alternativas, ele a havia feito. Sabia que o que falasse ali, naquele momento, poderia determinar o futuro da sua busca: permitiria que ele conquistasse o prêmio supremo, ou determinaria de vez a sua derrota. Uma última gota de hesitação percorreu o seu pensamento antes de abrir a boca. Enfim, encheu-se de determinação e falou:

– Eu escolho a Medusa para ir para o Paredão, Bial.

As Dez Torres de Sangue

deztorresAs Dez Torres de Sangue, de Carlos Orsi, conta a história do aventureiro Suleiman Ibn Batil e da fidalga Dona Teresa, enquanto ambos desvendam os segredos da cidade misteriosa de Antares no deserto do Saara e tentam pôr fim aos atos sombrios que lá são realizados. Ambientado na era dos descobrimentos, o livro busca criar para si um ambiente semi-histórico, bebendo na mitologia cabalística e do ocultismo árabe para se desenvolver como uma aventura de espada e feitiçaria que não envergonharia os clássicos de Howard e Leiber.

O foco, como em toda boa história do gênero, está muito mais na ação e na aventura, com uma certa dose de horror, do que propriamente no desenvolvimento dos personagens e profundidade do enredo. Mas isso não é um defeito, é claro: para quem busca justamente isso, é um prato cheio. A trama se desenvolve praticamente como uma exploração de masmorra, e você consegue imaginá-la sem dificuldades como uma aventura de RPG. No caminho, monstros grotescos, artefatos mágicos e uma boa dose de coragem frente ao desconhecido.

A narrativa é fluida, embora, para quem tiver um olhar mais crítico, haja uma passagem ou outra que poderia ser revisada; nada que realmente incomode. Há alguns desvios mais problemáticos na construção do cenário histórico, no entanto. O que mais me incomodou foi uma citação a uma adaga que teria sido forjada no Afeganistão, país que só passou a existir como tal no século XX. Outros pontos podem requerer um pouco mais de conhecimento histórico e apego a detalhes para serem percebidos (leia-se: chatice mesmo), mas em geral são pontos que poderiam ter sido evitados sem dificuldade com um pouco mais de cuidado.

Outro ponto relevante a se destacar é que é um livro bastante curto, pouco mais do que um conto longo, que você lê em uma ou duas sentadas tranquilamente. Mesmo com o lindo trabalho gráfico, como é padrão na editora, isso pode afastar aqueles que gostem de ter o máximo de leitura pelos seus reais investidos. Mas não acho que aqueles que forem menos pães-duros vão se decepcionar – por mais que seja uma leitura curta, ainda é uma boa leitura, que, mesmo com alguns problemas pontuais, entretém pela sua duração.

Enfim, é um bom livro, que eu recomendo para os que gostam de histórias de aventura e feitiçaria.

Ten Billion Days and One Hundred Billion Nights

TenBillionDaysTen Billion Days and One Hundred Billion Nights, de Ryu Mitsuse, é anunciado na capa como o maior romance de ficção científica japonesa de todos os tempos. Apesar de não ser citada, aparentemente há uma fonte concreta para esta afirmação – uma pesquisa de 2006 feita pela revista literária SF Magazine, principal publicação dedicada ao gênero no Japão. Se ela corresponde mesmo à verdade eu não sei, mas posso dizer com certeza que este é um dos romances mais ambiciosos no seu escopo e conteúdo que já li. Ele começa com o surgimento da vida na Terra e em cerca de trezentas páginas faz um grande salto até o quase desaparecimento do universo pela entropia no século XL, onde ocorre o embate decisivo entre a semideusa Asura, Sidarta Gautama e Platão, de um lado, e Jesus de Nazaré e a divindade budista Maitreya, do outro.

Só pela escolha dos personagens já dá pra perceber que esse não é o seu romance de ficção científico típico. Ele se enquadra, na verdade, em uma vertente semelhante à de um 2001: Uma Odisseia no Espaço, do Arthur C. Clarke (citado pelo autor como referência no posfácio, inclusive), no sentido em que explica o desenvolvimento humano a partir influências externas – no caso, seres exteriores ao nosso próprio universo, que travariam um embate entre si a respeito da destruição da humanidade ou a sua sobrevivência -, e se desenvolve como uma jornada em que os protagonistas buscam desvendar o seu mistério. Que essa jornada perpasse por uma busca pela cidade perdida de Atlântida na Grécia antiga, a transformação do príncipe indiano Sidarta em Buda e a crucificação de Cristo é apenas parte do que a torna mais única e especial.

Aqui é bom abrir um parênteses para falar sobre essa própria noção de influências externas na história humana, que muitos levam a sério demais. Só de citar coisas como “Atlântida” e “deuses astronautas” já deve ativar o sinal de alerta sobre possíveis esoterismos; mas, como na obra de Clarke, ou mesmo um Stargate, ela está lá muito mais como um meio, uma forma pela qual o verdadeiro escopo do enredo pode se revelar, transformando toda a magnitude do universo em puro sense of wonder. Há um foco maior no embate filosófico entre os personagens, muito embora algo que poderia ser muito interessante nessa premissa – filósofos e profetas de diversas correntes e religiões debatendo as idéias pelas quais ficaram conhecidos – não seja plenamente aproveitado. Em especial após o salto temporal que leva os protagonistas ao conflito decisivo, há uma certa descaracterização das suas personas históricas, apresentadas de forma muito vaga e podendo até mesmo causar alguma polêmica entre leitores mais fundamentalistas (leia-se: Jesus é um dos vilões da história).

O que há de realmente interessante é justamente a viagem feita até lá, e as especulações sobre os futuros da humanidade e a sua tendência à auto-destruição. Uma passagem especialmente marcante envolve Sidarta explorando um planeta em que há um embate entre duas classes de cidadãos. No entanto, ele encontra apenas membros da classe mais baixa pelas ruas; quando solicita que o levem até os cidadãos da classe alta para questioná-los, é levado a uma grande sala coberta de gavetas do chão ao teto, sobrevistas por um grande robô com o formato de um caranguejo. O robô, que se identifica como um deus, explica que cada uma dessas gavetas contém um microchip com todos os dados de uma pessoa, e que ela está neste momento vivendo em uma simulação virtual criada por ele da sua vida. Conseguem pegar a imagem? É quase um misto de Matrix com Charles Stross, mas com trinta anos de antecedência (o livro foi publicado no Japão em 1967, e revisado em 1973).

E, claro, há também o fato de que estamos falando de um livro em que há uma longa cena de combate entre o Sidarta Gautama ciborgue contra o Jesus de Nazaré com um canhão de microondas nas ruínas de Tóquio do século XL… E isso tem contexto e faz todo o sentido dentro da história (além de ser uma das aplicações mais lindas da Rule of Cool que eu já encontrei).

Há que se destacar também que a prosa é bastante densa, e por vezes até confusa. Há muitas explicações e detalhes técnicos, embora a ciência propriamente esteja algumas vezes datada e ultrapassada. Estes são os momentos onde o livro se encontra no seu ponto mais baixo, mas acredito que o escopo da história e o ritmo rápido do desenvolvimento, que não o deixa ficar entediado, ajude a superá-los de forma razoavelmente satisfatória. Muita coisa também é deixada para interpretação do leitor, não se revelando de forma clara e objetiva, em especial no final cataclismático e melancólico.

Enfim, não sei dizer se Ten Billion Days and One Hundred Billion Nights é um livro que qualquer um possa pegar, ler e se maravilhar. Pra ser sincero, eu mesmo acho que só vou conseguir firmar uma opinião concreta depois de ler ele mais uma vez ou duas ou dez. O que ele é com certeza é uma grande viagem de imaginação, capaz de causar um sense of wonder bastante particular no seu escopo e ambição, deixando-o perplexo e reflexivo após a leitura. É daqueles livros que causam uma impressão forte, e certamente não vai ser apagado da minha memória com muita facilidade.

Angry Birds Star Wars

angry-birds-star-wars-finalSempre desconfiei dessa modinha Angry Birds por aí. Nada contra quem joga exatamente, cada um gosta do que quiser, mas, pra alguém que vem do lado hardcore da Força gamer como eu, me parecia meio questionável que um jogo que sequer é original chegasse e dominasse com tanta força um nicho do mercado. Acho que é uma prova concreta da diferença que faz o carisma de um personagem-título – afinal, muito mais divertido do que destruir castelos com um trebuchet genérico, é fazer isso com um pássaro suicida fofinho.

Em todo caso, me manti meio alheio a ele por um bom tempo, até que veio a notícia desse Angry Birds Star Wars. Fã da saga máxima do George Lucas que sou, e com a motivação extra de ele ser um download gratuito através do Google Play do Android, resolvi dar uma chance para ele com o meu Samsung Galaxy comprado há alguns meses. E, bem… Sabe que até que é um joguinho legal mesmo?

O que torna ele divertido, acho, é a forma como ele é pensado dentro do conjunto temático da série. Você segue o roteiro da trilogia original, com direito mesmo a pequenas cenas entre algumas fases avançando a “história,” e vai liberando novos pássaros-bombas na medida em que ela se desenrola. Cada um deles possui uma habilidade especial, fundamental para superar certos obstáculos e conseguir a pontuação máxima: Luke possui um sabre de luz; Obi-wan usa a Força para mover obstáculos; o Han sempre atira primeiro… Há mesmo alguns bônus bacanas que você pode adquirir se conseguir boas pontuações, como a habilidade de usar a Millenium Falcon algumas vezes para dizimar os stormpigs imperiais.

O legal é ver como essas habilidades foram consideradas no design dos estágios, de forma que você tenha que usar elas ao máximo para obter as melhores pontuações. E esse design de fase, aliás, é o ponto realmente forte, com diversos elementos destruíveis e características diferentes à medida que você avança por elas – acho que o jogo me conquistou mesmo quando cheguei nas primeiras fases no espaço, onde asteróides e afins emanam um campo magnético que modifica a trajetória dos pássaros ao passar por eles, dando a ele toda uma dinâmica diferenciada e muito inteligente na sua simplicidade.

Enfim, é um joguinho bacana mesmo e muito inteligente, para quem gosta de jogos casuais e da série Star Wars.

Haicai (3)

Querer,
Esse verbo
Intransitivo.

Os números de 2012

Coisinha bacana que eu encontrei no topo da página de estatísticas hoje. =P

Os duendes de estatísticas do WordPress.com prepararam um relatório para o ano de 2012 deste blog.

Aqui está um resumo:

4,329 films were submitted to the 2012 Cannes Film Festival. This blog had 38.000 views in 2012. If each view were a film, this blog would power 9 Film Festivals

Clique aqui para ver o relatório completo


Sob um céu de blues...

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