Sem palavras. Vou ali juntar meu queixo do chão e já volto.
Um pouco do nada que é tudo que eu sou.
Sem palavras. Vou ali juntar meu queixo do chão e já volto.
Castelos-robô, katana com balas, shuriken laser… E, é claro, um ninja ciborgue. Tem como ser ruim?
Podia ser uma aventura de Tenra Bansho Zero quase sem alterações.
Vestia uma fantasia do Super-Homem, com uma grande capa vermelha que esvoaçava ao vento, quando pulou do último andar do arranha-céu. Seu corpo foi encontrado no chão da rua dezenas de metros abaixo, os ossos todos quebrados, irrecuperável para a vida, mas com um sorriso infantil no rosto. Sabia que em algum lugar, em algum tempo, em algum universo mais amigável aos sonhos… Ele havia voado.
Blood & Honor é o novo RPG de samurai de John Wick, publicado em português pela RedBox Editora. Se você não sabe o que isso significa, bem… É só lembrar que ele foi um dos criadores do mundo de Rokugan, o provável cenário de fantasia oriental mais famoso do mundo, onde se passam as histórias do jogo de cartas colecionáveis e RPG Legend of the Five Rings (e que eu, *ahem*, cometi uma adaptação pra 3D&T algum tempo atrás). Não se trata, portanto, de um mero autor aleatório falando sobre guerreiros com códigos de honra anacrônicos e espadas obras-primas de lâmina curva, mas de alguém que possui conhecimento técnico e de fato deve a sua própria celebridade ao tema.
Diferente da sua obra mais conhecida, no entanto, este não é um jogo de fantasia, mas um que busca emular alguns aspectos do Japão histórico, ou, como ele mesmo se denomina, é um jogo de tragédia samurai. Não que seja realmente um jogo 100% histórico, é claro; no próprio texto o autor admite que há algumas licenças poéticas e generalizações para criar um ambiente mais divertido. Mas o cuidado com a recriação do cenário é visível nas próprias ilustrações, que, ao invés de serem feitas em um estilo e por artistas contemporâneos, foram reproduzidas a partir de coleções de época da Biblioteca do Congresso Norte-Americano.
Sendo um jogo de tragédia, ainda, é claro que o seu foco está muito mais na narração e interpretação do que propriamente em combates épicos contra monstros mitológicos. Não que seja impossível adicionar elementos fantásticos – há sugestões a esse respeito no livro, um capítulo inteiro sobre “magia” e a religiosidade oriental, e sendo bem sincero eu mesmo já me peguei imaginando usar o sistema para jogar em Tenra Bansho Zero ou até com um clã de samurai reconstruindo a sua província em Tamu-ra após a expulsão da Tormenta -, mas, mesmo que você os inclua, o foco ainda será muito maior nas intrigas e conflitos de honra entre os personagens. Ele é um jogo “narrativista,” para usar o jargão criado no fórum gringo The Forge, em que o objetivo das regras é muito mais oferecer ferramentas para se criar uma história coletiva do que criar um jogo equilibrado matematicamente, onde os personagens simplesmente superem desafio sobre desafio imposto por um mestre da masmorra onisciente e onipotente. Os próprios jogadores tem seus turnos narrando a história, com o mesmo poder de decidir fatos e situações sem serem contestados, e, quando uma katana é sacada da bainha, tudo é resolvido de forma rápida e objetiva, geralmente com uma dúzia de corpos ensanguentados como resultado – exatamente como em qualquer filme clássico de samurai, aliás.
Isso não quer dizer que não haja um sistema de regras robusto quando necessário, é claro, e, no caso de Blood & Honor, ele está principalmente na criação e manutenção do clã do qual os personagens fazem parte. Nesse sentido ele lembra um pouco o jogo da série Guerra dos Tronos: mais do que meros personagens individuais, cada jogador interpreta um Oficial dentro do seu clã, e, juntos, eles devem decidir como será o avanço e crescimento das suas terras. Há regras para a mudança das estações, construção de estabelecimentos que gerem riquezas e benefícios, melhorando a vida na sua província, além, é claro, das intrigas e eventualmente a guerra com as províncias vizinhas. A criação do clã é aquela que toma mais tempo, com a necessidade de escolha de um tipo de daimyo, estabelecimentos iniciais, virtudes valorizadas e outros elementos. A parte mais interessante do processo ocorre quando cada jogador é convidado a declarar um fato sobre ele: a saúde do daimyo, a infidelidade da sua esposa, alguma maldição ou história antiga… Todos podem decidir um fato sobre o clã, e ele é automaticamente considerado verdadeiro.
Em comparação com a criação do clã, a de personagens é bem mais objetiva e direta. Isso tem uma razão prática: é esperado que eles morram com frequência, se não em duelos e massacres, devido à própria idade e o passar dos anos, de forma que deve haver uma forma rápida de repô-los quando necessário. É o clã que está no centro de fato do jogo, servindo de porto seguro aos jogadores, aquilo pelo qual eles devem lutar e se sacrificar.
O texto todo é escrito de forma bem casual, fugindo daquele tecnicismo característico dos livros de regras de RPG. É como se o autor estivesse te ensinando a jogar em uma conversa de bar ou depois de um jantar com os amigos. Isso é certamente um ponto positivo, embora eu tenha ficado com um sentimento meio ambíguo no momento em que ele começa a falar das dicas e guias para os jogadores e o narrador. Achei interessante que haja um capítulo específico para cada um – a grande maioria dos RPGs parece se preocupar apenas com o mestre/narrador -, mas em alguns momentos, na sua defesa do RPG como um jogo de criar histórias coletivas e de interpretação de personagens, ele parece passar um tanto do ponto. Tudo bem que ele goste de imersão no cenário, que valorize a interpretação e a criação de contexto, que utilize técnicas de atores profissionais para entrar no personagem, e até, vá lá, tenha o ritual de acender uma “vela da história” para marcar o começo de cada sessão; mas é um pouco chato ser acusado de jogar errado apenas porque você não faz questão de metade disso, e prefere um ambiente mais casual e aberto com o seu grupo de amigos. Por mais que ele admita que cada um tem o seu jeito de jogar no fim do livro, parece mais um pedido de desculpas vazio, um “sem ofensas, ok?” depois de passar os dois últimos capítulos martelando o seu manifesto pelo narrativismo no RPG…
A edição da RedBox certamente merece todos os elogios. O livro é lindíssimo, e a edição de luxo vale o preço que tem: além da caixa para guardar o jogo, há um conjunto de dados personalizados (em que o 6 aparece escrito em kanji), algumas cartas de jogo para facilitar a consulta do giri do seu personagem (a sua classe, para resumir porcamente um conceito bem mais complexo), e mesmo um mapa colorido com as províncias japonesas em meados do século XVI. Achei que faltou uma revisão mais apurada do texto, talvez; a frequência de errinhos simples de digitação incomoda, além de pronomes repetidos e afins. Há mesmo um determinado trecho no capítulo sobre os jogadores, onde o autor discute as diferenças entre os heróis ocidentais e orientais, em que eles parecem ter trocado “oriental” por “ocidental” – tive que reler a frase um punhado de vezes antes de perceber que ela só fazia sentido se eu assumisse que havia um erro. Mas são detalhes pequenos, é claro, para um trabalho tão bonito e cuidadoso.
Enfim, Blood & Honor é um jogo bem legal mesmo, que eu recomendo para qualquer um que goste do Japão e de histórias de samurai. É uma forma diferente de jogar com a cultura japonesa para quem está acostumado com os Legend of the Five Rings e seus genéricos, mas que certamente vale a experiência.
Tinha quatorze anos quando Greta foi contratada. Meu pai havia acabado de retornar de uma viagem de negócios ao norte da Europa, e poucos dias depois nos apresentava a ela, nossa nova empregada doméstica. Ela moraria em nosso apartamento e ocuparia o quarto apropriado na área de serviço. Devia ser tratada com respeito e cordialidade, e apenas uma regra a mais deveria ser seguida além das que valeriam para qualquer outra:
– Nunca, jamais, agradeçam-na por qualquer coisa.
Nos dias seguintes nos acostumamos aos poucos com sua presença. Greta era muito eficiente, mais do que qualquer empregada que tivemos antes ou depois. Nunca mais tivemos um apartamento tão limpo. Ela encontrava focos de poeira que não imaginávamos existir, e fazia brilhar como novas áreas que não percebíamos estar sujas até que passasse por lá. Trabalhava sempre de forma muito rápida, quase sobrenatural; você podia observá-la e ela pareceria estar no mesmo pique de uma empregada comum, mas bastava desviar os olhos por um instante e, quando a visse novamente, teria vencido o dobro de faxina do que esperava. Também era uma excelente cozinheira, com um leque interminável de receitas envolvendo massas, carnes e linguiças, e nunca houve um rasgo em uma de minhas roupas que não estivesse magicamente consertado na manhã do dia seguinte.
Eu estudava então em uma escola particular durante as manhãs, e tinha a maioria das tardes livres, que passava geralmente em casa, vendo televisão, jogando videogames ou dormindo. Era um garoto tímido e retraído, com poucos amigos com quem sair, praticamente apenas dois colegas de turma desajustados como eu: Bruno, um garoto grande que se enfurecia fácil com piadas sobre o seu peso, e Pedro, que era o único aluno negro da escola além de sua irmã mais nova. Duas ou três vezes por mês um deles ia até minha casa ou eu ia até a deles para estudarmos, jogarmos videogame, conversarmos sobre os últimos gibis do Homem-Aranha ou apenas falarmos mal de professores e colegas. Não tinha irmãos, meu pai trabalhava o dia inteiro no escritório, e minha mãe como gerente em uma loja de roupas no shopping local; assim, minha companhia no resto do tempo se resumia a Greta.
No início talvez nem pudesse chamá-la realmente de companhia. Estava acostumado a ignorar a presença das empregadas anteriores, e esta foi também minha primeira atitude então. Éramos dois estranhos, exceto por estarmos sob o mesmo teto; eu a deixava fazer seus serviços em paz, enquanto assistia aos filmes da Sessão da Tarde ou o que mais estivesse me ocupando no momento. Até que uma conversa com Bruno, em uma de suas visitas após a aula, mudou tudo.
– Você tem uma empregada muito bonita. – ele disse, entre uma rodada de videogames e outra.
– Você acha?
– É sim. A da minha casa é uma velha feia, queria ter uma empregada como a sua.
Não tocamos mais no assunto durante toda a tarde, mas à noite, enquanto me revirava pela cama tentando dormir, ele me veio novamente ao pensamento. Greta era, realmente, muito bonita, muito mais do que as nossas empregadas anteriores, ou a de qualquer outra família que eu conhecesse. Estas eram todas feias, ou gordas, ou velhas; Greta, ao contrário, era pequena e magra, e parecia ter a minha idade ou apenas um pouco mais, muito embora meu pai garantisse que fosse bem mais velha. Tinha cabelos loiros, lisos e longos, quase batendo nos joelhos, uma pele branca tão delicada que seria capaz de rasgar com um toque, e um par de olhos verdes claros quase ao ponto de se tornarem azuis.
Já no dia seguinte eu a olhava de uma forma diferente. Antes podíamos passar o dia inteiro a poucos metros de distância, e eu nunca a perceberia; agora, no entanto, era eu que a procurava, e inventava coisas a fazer onde estivesse trabalhando. Observava-a escondido, atrás de portas entreabertas, ou enquanto fingia me ocupar de outra coisa; ela me tomava toda a atenção quando estava em casa, e eu não conseguia me concentrar em qualquer outro assunto.
Quanto mais a observava e conhecia seus costumes, mais alguns aspectos do seu comportamento começavam a me intrigar. Logo notei, por exemplo, que Greta jamais reclamava de nada, fosse da sujeira que fazíamos, fosse dos pedidos que lhe passávamos. Sua postura era sempre de total submissão, olhando para o chão quando lhe falávamos, acatando as ordens que recebia com um simples balanço de cabeça. Acho que nunca a ouvi pronunciar qualquer palavra em português – sabia que não era muda, pois cantarolava canções em um idioma desconhecido enquanto trabalhava, e era certo que nos entendia muito bem quando nos dirigíamos a ela, mas jamais nos respondeu com qualquer comentário ou objeção articulada.
Além disso, e apesar de todas as receitas que conhecia, Greta era, aparentemente, vegetariana. Sua única refeição diária era composta por alguns legumes e verduras que preparava em um prato ao fim da tarde e comia sozinha, na área de serviço. Este também era, até onde eu podia saber, o único pagamento que recebia, uma vez que jamais presenciei meu pai repassando-lhe algum salário em dinheiro.
Nada me intrigava mais, no entanto, do que a recomendação de nunca lhe dar um agradecimento. Muitas vezes me vi imaginando o que aconteceria se o fizesse, e em mais de uma tive o “obrigado” na ponta da língua após algum pedido inventado apenas para isso – mas bastava lembrar-me de meu pai e do castigo que viria quando descobrisse para recuar, e deixá-la voltar às suas tarefas rotineiras.
Se havia tantas questões sobre Greta, é verdade também que ela tinha muitos mais encantos. Era sempre cuidadosa e atenciosa com o que fazia, e nunca nos recusou qualquer pedido. E não apenas a aparência, mas todos os seus gestos e movimentos pareciam ser dotados de uma beleza quase mágica: quando mexia os braços era como se pintasse o ar com pinceladas suaves e graciosas, e o seu caminhar era cuidadoso e ritmado como uma dança.
Assim, aos poucos, as tardes que passava com Greta foram se tornando a razão de minha existência. Já não era apenas em casa que ela tomava meus pensamentos, mas também na rua, na escola, na casa dos meus amigos. Todo o resto não passava de incomodação, provas heróicas as quais eu tinha que sobreviver para desfrutar daquilo que realmente importava. Até que chegou a vez de Pedro vir me visitar após a aula.
Como Bruno, ele também se impressionou com a beleza de Greta. Desta vez, no entanto, eu estava preparado para continuar no assunto, e até mesmo um pouco ansioso com a possibilidade de falar sobre ela com alguém, ao invés de guardar para mim tudo o que sentia. Foi preciso apenas alguns minutos conversa para que ele fizesse o comentário que me assombraria durante todo o mês seguinte.
– Você acha que o seu pai está transando com ela? – ele disse.
– O quê? – respondi, já sentindo um calafrio subindo as minhas costas.
– Eu vi num filme que, quando se tem uma empregada bonita assim, é quase certo que o dono da casa está fazendo sexo com ela.
– Ela não faria isso.
– Mas ele faria?
Terminei aquela tarde com muitos arranhões pelo corpo, uma mancha roxa e uma marca de mordida nos braços, e um amigo a menos durante uma semana. Mais do que isso, no entanto, toda a inocência dos meus sentimentos quanto a Greta foi perdida. Eu podia ser ainda um garoto, e até um tanto ingênuo, mas era já um adolescente, e, fosse pelos estudos ou por comentários e piadas de colegas, sabia bem o que o sexo representava. Eu mesmo fantasiava com ela em meus momentos íntimos, e não muitas semanas antes com colegas de classe e até algumas professoras; mas agora havia uma nova imagem que não conseguia expulsar dos meus pensamentos: a de Greta com meu pai, ou qualquer outra pessoa que não fosse eu.
Durante vários dias não consegui olhar para ela. Fugia da sua presença, e buscava outras coisas com que me ocupar – gibis, videogames, estudos. Mesmo nelas, no entanto, Greta não saía dos meus pensamentos e me impedia de me concentrar. Logo já estava rendido outra vez, e voltava a observá-la e persegui-la como se nada houvesse mudado.
Exceto que tudo havia mudado. Já não a via mais com um olhar deslumbrado, mas sim sedento, sorvendo cada instante da sua presença como um lobo esfomeado. Não me escondia mais quando queria vê-la; apenas parava no cômodo onde ela estava, sentando-me em algum lugar ou recostando-me na parede, e a observava fixamente, sem me preocupar com sua reação. Ela, por outro lado, nada fazia – apenas continuava seus afazeres como se eu não estivesse ali, ou não passasse de mais uma peça da mobília.
Toda essa passividade me fazia imaginar o que ela faria se eu lhe pedisse – ou melhor, mandasse – vir se deitar comigo. Tinha quase certeza que de não me recusaria, assim como não recusaria a qualquer outro que fizesse o pedido. No entanto, não era capaz de reunir a coragem necessária para fazê-lo, e apenas me via imaginando acontecer enquanto a olhava, sentindo meu corpo se aquecer e avermelhar enquanto certas partes de mim enrijeciam.
Meus pais também não demoraram a perceber a minha atitude desembaraçada em relação à Greta. Minha mãe me repreendeu mais de uma vez, quando me pegou olhando a empregada nas poucas vezes em que estava em casa. Meu pai também, mas com ele eu já não me importava; sua mera presença me lembrava da conversa com Pedro, e por isso preferia ignorar que estivesse lá.
E então veio a noite em que, após acordar durante um sonho estranho, fui até o banheiro lavar o rosto, e depois à cozinha pegar um copo d’água. Não sei se foi a minha intuição que me fez ir em seguida à área de serviço, ou se já então ouvia algum ruído abafado, ou mesmo se não era apenas a minha vontade de me sentir próximo à Greta por alguns instantes; o fato é que fui até lá, e encontrei o seu quarto com a luz acessa e a porta entreaberta. Aproximei-me devagar, levando o rosto com cuidado para perto da fresta, tentando descobrir o que ocorria lá dentro sem relevar minha presença. E então percebi que Greta não estava sozinha.
O choque me manteve imóvel por alguns minutos, mas logo me recuperei e voltei para o quarto. No entanto, não consegui mais dormir aquela noite, sem conseguir me livrar da imagem do que vi.
No dia seguinte, durante a aula, fui diversas vezes repreendido pela falta de atenção. Voltei para casa, mal toquei na comida durante o almoço e tentei evitar Greta o quanto pude. Não consegui: bastou que ela passasse pela minha frente durante a limpeza da sala, enquanto eu assistia à televisão, para que eu lembrasse de tudo o que ocorrera, e a segurasse e puxasse pelo braço.
– Eu vi o que você estava fazendo ontem à noite. – ela se virou em minha direção, olhando-me como se não entendesse o que eu dizia. Meus olhos começaram a marejar, e eu já sentia as primeiras lágrimas escorrendo pelo lado do rosto. – Por que você fez isso, Greta?
Puxei-a para cima do sofá e me posicionei sobre ela. Continuava a perguntar por quê? entre choros e soluços, enquanto levantava o seu avental e sua saia, e abaixava em seguida sua calcinha. Eu endurecia, mas ela nada fazia para resistir; apenas aceitava a tudo me olhando, passiva, como se já esperasse pelo que estava acontecendo.
Talvez tenha sido a sua falta de atitude, o pouco interesse que demonstrava em impedir meus movimentos, ou então fui eu que percebi subitamente o que estava fazendo, mas o fato é que eu não consegui continuar. Parei de repente de me mover sobre ela, e olhei fixamente nos seus olhos vazios de sentimento. Levantei desajeitado do sofá e corri para o quarto, batendo a porta atrás de mim.
Já estava encolhido e aos prantos sobre a cama quando ela se abriu devagar, revelando Greta, que entrou e veio em minha direção. Eu levantei o rosto para vê-la; ela se aproximou, sentou-se ao meu lado, e começou a secar minhas lágrimas suavemente com as mãos. Logo seus dedos se moveram para trás, em direção à minha nuca, e a seguraram e puxaram para perto dela, apertando-me contra seus lábios em um beijo longo.
Greta se afastou de minha boca e começou a descer em direção ao pescoço, ao ombro esquerdo, ao peito, parando em cada um deles com um beijo curto. Eu endurecia um pouco mais a cada vez que seus lábios me tocavam, e em seguida também com o calor molhado da sua língua. Com mãos ágeis, ela me despiu aos poucos, livrando-me de minha camisa, e depois de minhas calças e roupas íntimas. Por fim, subiu em mim, e eu me senti entrando nela enquanto a apertava contra o meu corpo e começava a movê-lo devagar.
Quando terminamos, ela levantou da cama e ajeitou a roupa, antes de começar a caminhar em direção à porta. Eu a chamei antes que saísse do quarto, fazendo-a parar e se virar em minha direção. Tinha no rosto um olhar sério e passivo, como se o que acabara de fazer não fosse diferente de tirar uma mancha da parede.
Emudeci ao vê-la com aquela expressão, esquecendo de repente todo o milhar de coisas que passava pela minha cabeça. Queria dizer que a amava, que a queria para sempre comigo, que fugiria com ela; quando abri a boca para falar, no entanto, consegui formular apenas uma palavra:
– Obrigado.
Ela não respondeu, e apenas se virou novamente e saiu do quarto. Ao fim do dia já não estava mais em lugar nenhum do apartamento, sumindo de minha vida quase tão rápido quanto aparecera.
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