– Mas qual a diferença entre um membro da intelligentsia e um intelectual?
– Tem uma diferença grande. – ele respondeu. – Só consigo explicar alegoricamente. Você entende o que isso significa?
Eu assenti.
– Quando você era ainda muito pequena, haviam cem mil pessoas vivendo nesta cidade que eram pagas para puxar o saco de um dragão vermelho horrível, do qual você provavelmente não se lembra…
Eu balancei a cabeça. Uma vez na minha juventude eu havia visto um dragão vermelho, mas tinha esquecido como se parecia – a única coisa de que lembrava era o medo. Era improvável que Pavel Ivanovich tivesse aquele incidente em mente.
– Claro, essas cem mil pessoas odiavam o dragão, e sonhavam em ser governadas pelo grande sapo verde que o enfrentava. Então, enfim, chegaram a um acordo com o sapo, envenenaram o dragão com um batom que receberam da CIA e começaram a viver uma nova vida.
– Mas o que a intelig—
– Espere. – ele disse, levantando a mão. – Inicialmente eles pensaram que com o sapo estariam fazendo exatamente como antes, mas receberiam dez vezes mais dinheiro. Mas acontece que ao invés de cem mil puxa-sacos havia apenas a demanda para três profissionais trabalhando em turnos de oito horas para dar ao sapo um boquete majestoso sem fim. E quais dos cem mil esses três seriam, seria decidido em uma competição aberta, na qual os candidatos deveriam não apenas demonstrar suas habilidades, mas também a capacidade de sorrir otimisticamente com os cantos da boca enquanto estavam trabalhando…
– Acho que perdi o fio da meada.
– Esse é o fio da meada. Essas cem mil pessoas eram chamadas de a intelligentsia. E esses três são chamados intelectuais.
(O livro é cheio de problemas, mas essa citação é ótima).
0 Respostas to “The Sacred Book of Werewolf, de Victor Pelevin”