Posts Tagged 'amor'

Fim de Namoro

broken_heart1– Eu te amo.

– E eu te amo.

– Mas eu te amo mais.

– Não, eu que te amo mais.

– Mas isso é impossível. Eu que te amo mais.

– Eu que te amo mais.

– Eu que amo!

– Eu!

– Não, eu!

– Eu!

– EU!

– EU!!!

– Quer saber? Não te amo mais. Nunca mais quero te ver. Tchau!

– Pois já vai tarde! Até nunca mais!

3D&T Lovepunk

Ah, o amor! Casais apaixonados, corações pulsantes, buquês de rosas… É um elemento importante da vida, para muitos mesmo o mais importante. Mesmo assim, freqüentemente ignorado em jogos de RPG – ou qual sistema você conhece que detalha como o seu personagem pode se apaixonar, e que modificações isso causará nele?

Um pouco por isso, mas muito mais apenas para divagar um pouco e me divertir fazendo regras bestas de RPG, eu apresento o texto a seguir, detalhando como se apaixonar em 3D&T. O material é superficialmente inspirado no meu texto sobre Mácula para a Iniciativa 3D&T Alpha, mas bastante reduzido e simplificado.

Se Apaixonando
Estar apaixonado por alguém pode ser representado pela desvantagem Protegido Indefeso. Mesmo que o alvo do seu afeto não seja exatamente muito “indefeso”, você se preocupa com ele, e tem a sua concentração abalada quando ele se encontra em qualquer situação de perigo – justificando, assim, o redutor de H-1 causado pela desvantagem. Se você quiser criar um personagem já apaixonado por outro, portanto, basta adquiri-la.

Durante a campanha, é claro, o mestre também pode determinar que algum personagem atrai especialmente a atenção do seu, e isso pode terminar por fazê-lo se apaixonar. Para resistir aos seus encantos, você deve passar em um teste de Resistência +1 – não é exatamente muito difícil de fazer em um primeiro momento, a menos que ele/ela esteja tentando deliberadamente seduzi-lo ou haja algum poder sobrenatural envolvido, situações em que o mestre pode colocar redutores a seu critério.

Na medida em que você convive com a sua paixão em potencial, no entanto, a possibilidade disso acontecer vai aumentando progressivamente. A cada dia que você passar junto com ele/ela, deve fazer um novo teste de R, com um redutor progressivo de -1 – apenas R no segundo dia, R-1 no terceiro, R-2 no quarto, etc.

Eventualmente, o redutor ficará grande demais para você passar no teste, fazendo com que se apaixone. Quando isso acontecer, você ganhará a desvantagem Protegido Indefeso, mesmo que ela ultrapasse o seu limite de desvantagens, e sem receber qualquer ponto por ela; apenas passará a sofrer os seus efeitos gratuitamente.

O Poder do Amor
É claro que se apaixonar não traz apenas desvantagens. Muito pelo contrário – a presença de alguém importante lhe dá motivação para ir atrás dos seus objetivos, e energia para vencer os obstáculos que se apresentem. Você não vive mais apenas para você, afinal: há outra pessoa igualmente importante na sua vida, pela qual você luta e quer ser bem sucedido.

Isso é representado por uma Característica nova chamada (pam pam pam) Amor, representada pela letra L, do inglês love, para não confundirmos com o A de Armadura. Ela mede a intensidade da sua paixão, e é adquirida como uma Característica normal, pagando pontos de personagem na criação ou PEs ao longo da campanha. Você só pode gastar pontos nela, no entanto, se tiver uma paixão representada pela desvantagem Protegido Indefeso, seja comprada na criação de personagem ou adquirida durante a campanha.

Você pode utilizar o seu Amor sempre que o alvo do seu afeto estiver diretamente envolvido nas suas ações. Se você o estiver protegendo de um inimigo que quer matá-lo, por exemplo, pode adicionar o seu L a todas as jogadas de FA ou FD que fizer – ou seja, elas serão iguais a F/PdF/A + L + H + 1d. Ele também deve ser multiplicado em caso de acerto crítico – portanto, caso você role um 6 no dado, a sua FA ou FD será igual a (F/PdF/A)x2 + Lx2 + H + 6!

De forma parecida, você também sempre pode trocar qualquer atributo em um teste pelo L quando o alvo do seu afeto estiver diretamente envolvido nele. Por exemplo, na mesma situação de você estar protegendo-o de um inimigo, caso este utilize alguma habilidade que peça um teste de Resistência, você pode testar o L no lugar se quiser.

Por fim, mesmo em situações em que ele/ela não esteja diretamente envolvido/a, você ainda pode gastar 1 PE para utilizar o L das mesmas formas descritas acima. Isso significa que o seu personagem fez alguma associação indireta entre a situação em que se encontra e o alvo do seu afeto – por exemplo, chegou a conclusão que deve vencer o inimigo atual ou ele porá em risco a vida do seu amor no futuro, ou que deve sobreviver ao combate para poder vê-lo novamente.

Código de Honra dos Românticos
Este é um novo Código de Honra que pode ser adquirido pelos personagens, seguindo as regras e restrições da desvantagem. Ele é seguido por românticos inveterados de qualquer tipo, que acreditam no poder do amor em todas as suas formas e encarnações. Por isso, nunca se colocam no caminho entre um apaixonado e a sua amada (ou apaixonada e seu amado, ou qualquer combinação diferente aí no meio), e fazem votos de sempre ajudar amores a se concretizar de qualquer forma que lhes for possível, desde que, é claro, não violem outros de seus Códigos de Honra no processo. Mesmo que um dos envolvido seja seu inimigo mortal, você deve ajudá-lo – o amor é maior do que tudo, afinal.

Amor de Verão

Savitri era uma moça muito bonita. Tinha a pele escura, quadris largos e um corpo redondo sustentado por pernas fortes como colunas gregas. Suas orelhas, quando estendidas, formavam um grande coração acizentado em torno do rosto, e de sua boca saíam um par de presas pequenas como dedais, uma em cada lado do longo nariz. Na jaula que dividia com as companheiras do circo onde morava, todas as outras elefantas a invejavam.

Mas Savitri era, também, muito infeliz. Olhava para fora, através das grades, e via um mundo imenso da qual nada conhecia. Observava as nuvens no céu, os pássaros voando, e sonhava em ser um dia como eles: correr livre pelos campos, fazendo a terra tremer a cada passada; conhecer lagos cristalinos e florestas verdes, repletas de árvores e flores. E suspirava, fazendo voar as cascas de amendoim caídas pelo chão.

Os anos passaram, mas ela continuava em seu cativeiro. Começou a achar que nunca realizaria seus sonhos de liberdade. Um dia, no entanto, sem que ela percebesse, um elefante selvagem a viu de longe e se encantou com o seu semblante triste e introspectivo. Seu nome era Kushna, e, durante vários dias seguintes, ele retornou ao mesmo lugar, de onde a observava em silêncio por horas e horas.

Logo chegou o momento em que não aguentava mais apenas olhar, e decidiu ir ao encontro da amada. Kushna se aproximou com cuidado durante a noite, em um momento em que a segurança estava desatenta, e se apresentou a Savitri. Era um elefante forte e robusto, e não teve dificuldades em destruir o cadeado da jaula e as correntes que a prendiam. Fugiram juntos sob o olhar atento da lua e das estrelas.

Correram a noite toda até que pararam para descansar na beira de um lago, centenas de metros distante da antiga prisão. Savitri era mais feliz do que jamais estivera: olhava para Kushna e o tocava com sua tromba, como para ter certeza de que era verdadeiro; ele se deixava tocar, e derramava sobre ela jatos de água que extraía do lago. Riam, e amavam-se.

Mas amanheceu, e os donos do circo notaram a fuga da elefanta. Preparam grupos de busca e saíram a sua procura: Savitri era um animal valioso, um investimento caro, e não podia ser perdido daquela forma. Levaram o dia todo, mas enfim acharam os dois na beira do lago e se prepararam para capturá-los.

Kushna quis fugir, mas Savitri estava muito cansada. Vá! Não deixe que eles acabem com a sua liberdade!, parecia dizer quando o olhava.

Eu não vou sem você!, ele respondia da mesma forma.

Eu não fui preparada para essa vida. Nasci no circo e nele fui criada desde pequena, não conseguiria sobreviver nesse mundo estranho que existe aqui fora.

Kushna virou-se para o lado, como que contrariado, sem saber o que responder. Enfim fugiu, deixando-a para ser capturada e levada de volta.

E assim Savitri voltou à sua rotina de artista enclausurada, com vigíla redobrada da segurança. Mas, no fundo, não mais se importava: pois agora, sempre que olhava para o céu em busca das nuvens, não eram mais os sonhos de liberdade que procurava e, sim, a lembrança dos momentos curtos mas felizes que nela vivera, e daquele com quem a dividira.

Baseado em fatos reais.

Haicai Platônico

Te olho em um lugar comum.
Mas, se você me olha,
Eu olho pra lugar nenhum.

Platonismos (2)

Os dois subiram no mesmo ônibus e sentaram um ao lado do outro.

– Que coincidência! – ela comentou.

– Pois é. – ele respondeu.

Ficaram em silêncio. O ônibus seguiu viagem, pegando alguns passageiros nas paradas seguintes.

– Então, o que tá achando do curso? – ela perguntou.

– Tá interessante. Tem seus altos e baixos. – ele respondeu.

Ficaram em silêncio novamente. Alguns minutos depois, ele perguntou:

– E você? Tá gostando?

– Ah, no geral tá bom.

O ônibus seguiu por mais algumas paradas, largando passageiros, deixando outros subirem.

– Já pensou em alguma coisa pro trabalho final? – ela perguntou.

– Ah, algumas ideias simples, nada demais.

– Hum.

– E você?

– Não pensei em nada ainda.

– Ah.

Outro silêncio. O ônibus seguiu por mais algumas paradas, até que ela se virou para ele.

– Eu desço na próxima. – disse.

– Ah. – ele respondeu, se virando para que ela pudesse passar. – Até mais.

– Até. – e desceu.

Ele desceu na parada seguinte. Atravessou a rua em direção à parada em frente, e esperou que passasse um ônibus que o levasse de volta.

Outra História de Amor

Foram anos até que Rômulo e Júlia, afinal, se encontrassem naquela situação. Conheciam-se desde o colégio, quando foram colegas de classe – ele se apaixonou à primeira vista logo que a viu entrando na sala de aula, a pele morena emoldurando como um quadro os olhos verdes de esmeraldas; ela, ao contrário, sequer notava sua existência, preocupada com sua própria bolha de relacionamentos, dentro da qual ele não estava. Anos de platonismos e embaraços se seguiram, deixando para trás poemas rasgados, constrangimentos, sonhos diurnos e desencantos. Separaram-se, enfim, sem nunca estarem realmente juntos; seguiram cada um o seu rumo após a formatura, em direção à faculdade e à vida adulta.

Mas se encontraram de novo, casualmente, de vez em quando, aqui e ali – um cumprimento rápido na fila do cinema, um abraço e um beijo na festa do fim de semana, uma curta troca de olhares na reunião da velha turma. Ela mal se lembrava daquele garoto estranho que a observava em cada gesto durante as aulas; ele buscava esquecê-la, mas algumas vezes, entre namoros acabados e madrugadas solitárias, ainda a via em devaneios e pensamentos.

Até que se encontraram em definitivo, e juntaram de fato suas vidas: eram agora vizinhos, e logo amigos e companheiros. Se encontravam e conversavam, dividiam baladas e problemas. Para ela, era ótimo conviver com alguém de um passado tão distante, mas ao mesmo tempo em uma amizade tão nova; para ele, era interessante tê-la novamente por perto, ao mesmo tempo em que afinal a superava. De amigos logo viraram melhores amigos; e de melhores amigos, parceiros e irmãos.

Estavam agora mais próximos do que jamais estiveram, e, de alguma forma, ainda tão distantes. Mas não poderia ser assim para sempre; a cada fim de semana que dividiam, a cada filme que assistiam a sós, a cada ressaca que superavam, entravam mais na vida um do outro, e construíam suas memórias em conjunto. Adiante estava apenas um passo, que não tardaria a ser dado.

Aconteceu naquela noite fria, em que Júlia brigara com o namorado e Rômulo, como era comum, a consolava. Foi quando, entre lágrimas e taças de vinho, sentados no sofá da sala, trocaram o olhar derradeiro: ela em um único instante lembrou de todos aqueles olhares na sua direção desde os tempos de colégio, e finalmente, após tanto tempo, pareceu entendê-los; ele no mesmo instante viu renascer, em uma explosão espontânea e violenta, todo o sentimento que julgava ter superado, mas agora descobria estar apenas adormecido. Os olhos se fixaram, e os rostos se moveram sozinhos, pegos subitamente em um campo magnético irresistível, se aproximando vagarosamente até os primeiros átomos dos seus lábios começarem a trocar elétrons…

E então, quilômetros distante, em um laboratório subterrâneo na fronteira entre França e Suíça, o maior acelerador de partículas do mundo foi posto para funcionar pela primeira vez, fazendo se chocarem a velocidades impensáveis partículas subatômicas que, como resultado, em uma série de reações quânticas imprevisíveis, originaram um pequeno buraco negro, que aumentou rapidamente com a absorção de partículas próximas até se tornar grande o bastante para engolir todo o laboratório, e então a região, o país, o continente e o planeta, levando juntos para o vazio Rômulo, Júlia e o beijo que nunca chegariam a completar.


Sob um céu de blues...

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