Isso é algo que eu acredito que camponeses entendem melhor do que nobres. Para eles, o caminho da queda importa, se você é esquartejado por uma dúzia de guardas ou atirado num saco de seda para se afogar ou se lhe é pertido remover sua túnica e seguir até as margens do lago antes de você se degolar. Camponeses entendem que morto é morto.
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Cowboys do Asfalto, de Gustavo Alonso
Published 08/08/2020 Blog Leave a CommentTags:citação, história, sertanejo
A questão de pano de fundo é a seguinte: se o ‘povo’ se mostrou politicamente conservador, esteticamente ele quase sempre foi progressista. Esse paradoxo vem sendo constantemente subestimado na maioria dos livros já escritos sobre música popular. Por um lado porque é de difícil (talvez impossível) resolução; por outro porque uma boa parcela das esquerdas e direitas caminhou exatamente no sentido oposto a essa proposta, ou seja, supunha ter um discurso politicamente ‘progressista’, mas esteticamente conservador em diversos pontos.
Do livro Cowboys do Asfalto, sobre a história da música sertaneja.
O assassinato do comendador, de Haruki Murakami
Published 10/07/2020 Blog Leave a CommentTags:citação, haruki murakami
– Você acha que existe algo como uma propensão imutável dentro de você, que se tornou um empecilho para o seu casamento?
– Ou quem sabe falte uma propensão imutável dentro de mim, e tenha sido justamente isso que se tornou um empecilho para o meu casamento.
– Mas você tem o desejo de pintar. Com certeza, isso está intimamente ligado ao desejo de viver.
– Entretanto, talvez eu ainda não tenha superado por completo alguma coisa, algo que preciso superar antes disso. Tenho essa impressão
Sobre os ossos dos mortos, de Olga Tokarczuk
Published 03/07/2020 Blog Leave a CommentTags:citação, nobel, olga tokarczuk
Agora, confiante de que as casas voltaram para a guarda de seus proprietários, podia caminhar cada vez mais longe. Continuava chamando essas escapadas de rondas. Alarguei meu domínio como uma loba solitária. Ficava aliviada ao deixar para trás a visão das casas e da estrada. Adentrava a floresta e podia vaguear, sem parar, no meio dela. Imersa em silêncio, a floresta se tornava um enorme e aconchegante abismo no qual eu podia me esconder. Acalmava meus pensamentos. Nessas horas não precisava esconder a mais problemática de minhas moléstias – o choro. Lá, as lágrimas podiam fluir, limpando os olhos e melhorando a vista. Talvez esse fosse o motivo pelo qual eu enxergava mais do que as pessoas com olhos secos.
– Todos nós somos uns solitários – disse Sem Medo. – Os solitários do Mayombe! Por que gostamos de viver na mata? Não é porque gostamos de nos sentir sós no meio da multidão de árvores que nos rodeia? Quando eu estava na Europa, eu gostava de andar no meio da gente, à hora da saída dos empregos. Anônimo, absolutamente anônimo no meio da massa. Por isso gosto das grandes cidades ou então da mata, onde se não é anônimo, antes pelo contrário, é-se singular, mas em que realmente uma pessoa sente ser uma personalidade singular, assim como no meio da multidão. Por isso não gosto de cidades pequenas, que são o detestável meio-termo da mediocridade. Desculpa os palavrões, mas é isso mesmo!
– Penso que é como a religião – disse Sem Medo. – Há uns que necessitam dela. Há uns que precisam crer na generosidade abstrata da humanidade abstrata, para poderem prosseguir no caminho duro como é o caminho revolucionário. Considero que ou são fracos ou são espíritos jovens, que ainda não viram verdadeiramente a vida. Os fracos abandonam só porque o seu ideal cai por terra, ao verem um dirigente enganar um militante. Os outros temperam-se, tornando-se mais relativos, menos exigentes. Ou então mantêm a fé acesa. Esses morrem felizes embora talvez inúteis. Mas há homens que não precisam de ter uma fé para suportarem os sacrifícios; são aqueles que, racionalmente, em perfeita independência, escolheram esse caminho, sabendo bem que o objetivo só será atingido em metade, mas que isso já significa um progresso imenso. É evidente que estes também tem um ideal, todos o têm, mas nestes o ideal não é abstrato nem irreal. Eu sei, por exemplo, que todos temos bem no fundo de nós um lado egoísta que pretendemos esconder. Assim é o homem, pelo menos o homem atual. Para que serviram séculos ou milênios de economia individual, se não para construir homens egoístas? Negá-lo é fugir à verdade dura, mas real. Enfim, sei que o homem atual é egoísta. Por isso, é necessário mostrar-lhe sempre que o pouco conquistado não chega e que se deve prosseguir. Isso impedir-me-á de continuar? Por quê? Se eu sei isso, a frio, e mesmo assim me decido a lutar, se pretendo ajudar esses pequenos egoístas contra os grandes egoístas que tudo açambarcaram, então não vejo por que haveria de desistir quando outros continuam. Só pararei, e aí racionalmente, quando vir que a minha ação é inútil, que é gratuita, isto é, se a Revolução for desviada dos seus objetivos fundamentais.
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