Aí que, revirando numas coisas velhas, achei isso aqui.
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Ei, mestre…
Published 07/06/2013 RPG , Sexy Nerds Leave a CommentTags:engenheiros do hawaii, música, paródia, pop, rock
Filmes de Guerra, Canções de Amor
Published 07/11/2011 Resenhas 3 CommentsTags:engenheiros do hawaii, música, mpb, pop, rock
Ontem, na sua twitcam mensal, o Humberto Gessinger, eterno líder dos Engenheiros do Hawaii, preparou uma pequena apresentação de um disco escolhido pelos fãs. Diz-se que a votação até foi meio injusta: Filmes de Guerra, Canções de Amor, disco ao vivo de 1993, ganhou por uma larga diferença frente às outras opções. É um dado curioso, quando se lembra que o disco não foi exatamente o mais bem sucedido do grupo – na verdade foi mesmo o último antes da saída de Augusto Licks, marcando o fim da fase clássica -, e, mesmo sendo um disco ao vivo, sequer teve muitos sucessos no set-list. Mesmo assim, é considerado por muitos, inclusive este que vos escreve, e melhor de toda a sua carreira. Acho que vale a pena discorrer um pouco, então, sobre a razão de tanta babação de ovo.
Pois o que é, afinal, Filmes de Guerra, Canções de Amor, além de uma expressão bonita? Basicamente, é o disco que justifica a existência dos EngHaw, quer você goste da banda, quer não; algo assim como o The Dark Side of the Moon do Pink Floyd ou o (What’s the Story?) Morning Glory do Oasis. E, como já destaquei, nem precisa ser um disco de inéditas pra isso: é um disco ao vivo, ainda que com características um pouco diferentes dos discos ao vivo tradicionais. Nada de rever grandes sucessos; a maioria das músicas são lados B, músicas de menor expressão, junto com algumas canções novas. E todas elas ganharam roupagens novas, diferentes do que a banda fazia até então: são arranjos mais intimistas, quase como essa onda de discos acústicos que infestaram o mercado nacional alguns anos atrás, mas com pelo menos dez anos de antecipação.
Também não se trata exatamente de um disco acústico, no entanto, como esses que saiam quase todo mês pouco tempo atrás. É um disco elétrico, mas sem efeitos digitais ou distorções de guitarra; nada de peso nas guitarras ou linhas de baixo frenéticas. Mas tinha, sim, muito experimentalismo e virtuosismo: Carlos Maltz parece uma criança em uma loja de brinquedos, divertindo-se com toda sorte de instrumento de percussão; e Augusto Licks rouba a cena em todas as músicas, sem exceção, com um virtuosismo limpo e elegante na guitarra. Tudo sempre apoiado, é claro, nas melodias e letras do Humberto Gessinger, especialmente daquelas músicas freqüentemente esquecidas da banda – Além dos Outdoors, Pra Entender e Crônica simplesmente valem o disco (curioso, aliás, ver uma música de 1985 falar de Palestina e da Coca-Cola invadindo a China – acho que ainda somos todos, a despeito de nossas idéias tão modernas, os mesmos homens que viviam nas cavernas, como diz o refrão da última); Alívio Imediato ficou, talvez, com a sua melhor versão; e Muros e Grades ficou perfeita com a levada meio bossa nova, com uma melodia suave e quase irônica em contraste com a letra pesada da música. De participação especial, pode-se considerar o maestro Wagner Tiso regendo a orquestra, com resultados fantásticos – vide a seqüência formada por Ando Só e O Exército de um Homem Só I e II, que ficou com jeito de épico cinematográfico.
Além dessas regravações, quatro novas músicas também foram lançadas no disco, as duas últimas gravadas em estúdio. Mapas do Acaso tem uma das letras formalmente mais bem trabalhadas da banda, com um arranjo que parece velejar, como a própria música. Quanto Vale a Vida cai um pouco no lugar comum, mas conta com uma interpretação inspirada do Licks na harmônica. Às Vezes Nunca é um devaneio sobre o tédio, viajando entre o jazz, o folk e terminando e um petardo de rock pesado. E Realidade Virtual acredito que seja uma das mais épicas composições do Gessinger, anunciando de forma quase religiosa que viver não é preciso, e nem sempre faz sentido; é preciso muito mais: fé cega, e um pé atrás.
Enfim, Filmes de Guerra, Canções de Amor é, como já disse, o tipo de disco que justifica a existência de uma banda. Uma ilha perdida no meio da carreira do grupo e do oceano da música pop: totalmente contra as marés da época em que foi lançado, e talvez ainda um tanto incompreendido. Mas não por isso menos imperdível; é o disco do EngHaw que merece ser ouvido livre de pré-conceitos, seja por fãs, por indiferentes e talvez até por alguns detratores.
Pra Ser Sincero – 123 Variações Sobre o Mesmo Tema
Published 29/03/2010 Resenhas 2 CommentsTags:biografias, engenheiros do hawaii, música, pop, rock
Este é o momento em que eu abriria a resenha com um mea culpa, comentando sobre como, independente da opinião de críticos chatos e o proto-messianismo musical, eu continuo sendo fã dos Engenheiros do Hawaii, foda-se quem não gostar, e blá blá blá, etc e tal, por aí vai. Não vejo muita razão para fazer isso, no entanto – em primeiro lugar, porque já fiz antes; e, em segundo lugar, pois implicaria admitir que, apesar de tudo, eu ainda tenho alguma vergonha de admitir o meu gosto pessoal, e sinceramente tenho esperanças de que esses ecos reprimidos da minha adolescência estejam já há algum tempo superados. Em todo caso, o fato é que eu sou, sim, fã de EngHaw, que é provavelmente uma das bandas, junto com o Oasis, os bluesmen clássicos norte-americanos e os roqueiros esquecidos dos anos 70, que me definem enquanto musicófilo, e é simplesmente impossível me desligar disso enquanto avalio Pra Ser Sincero – 123 Variações Sobre o Mesmo Tema, livro de memórias do seu líder e frontman, Humberto Gessinger.
O livro em si é dividido em três partes, sendo que para o fã genérico é certamente a primeira, Pra Ser Sincero, a mais interessante – é o relato autobiográfico propriamente dito, revelando a visão pessoal do Gessinger sobre os mais de 25 anos de estrada da banda, praticamente ano a ano. Quem espera um relato denso, no entanto, repleto de revelações pessoais e confissões, como foi a autobiografia do Eric Clapton, por exemplo, pode se decepcionar: a sua visão sobre a própria carreira é bem simples e direta ao ponto, sem grandes revisões ou quadros gerais. Muitas das anedotas e curiosidades dos bastidores inclusive já devem ser conhecidas dos fãs mais dedicados, que acompanhem entrevistas e a história da banda há algum tempo; e mesmo os temas possivelmente polêmicos, como a saída do guitarrista Augusto Licks em meados dos anos 90, são um pouco escanteados, dispensados com pouco mais do que algum comentário rápido. No fim, o texto acaba parecendo mais um roteiro pronto de um episódio de Por Trás da Fama, com aquele viés oficialista e, em certo sentido, inofensivo.
Por outro lado, isso não chega também a diminuir a sua força, que consegue manter o tempo todo um tom bastante pessoal e sincero, ao menos na aparência. Isso é reforçado pela prosa do Gessinger, que é escrita quase como ele fala – não que seja repleto de erros de português ou coisa assim, mas digo principalmente pelo ritmo e estilo do texto, a forma como ele pega bem aquele jeito meio pós-hippie quarentão que quem vê as suas entrevistas certamente repara, colocando às vezes em um mesmo parágrafo comentários sobre futebol (em especial o Grêmio), um verso de uma música, uma divagação filosófica e uma citação a Albert Camus. Muitas das suas opiniões mais gerais, inclusive, são bem interessantes e até um pouco surpreendentes, tanto sobre o trabalho da banda como a indústria da música em geral – entre outras, destaco a sua revelação de que o !Tchau Radar!, um dos discos mais discriminados pelos fãs, é o trabalho dos EngHaw que ele próprio mais ouve, bem como a sua visão bastante positiva sobre o impacto da internet e do compartilhamento de arquivos sobre a música (como ele mesmo diz, tanto o videoclipe como o CD são mídias que já nasceram com data certa para morrer).
A segunda parte do livro, Pra Quem Gosta de Nós, é a que justifica o subtítulo, ao apresentar 123 letras selecionadas de músicas da banda. Aqui estamos no território dos fãs, que muito provavelmente já sabiam a maioria delas de cor de qualquer forma – eu, pelo menos, já sabia. O certo é que os críticos continuarão achando-as ruins e fracas, enquanto os fãs continuarão vendo nelas o sentido oculto da vida. Mas vale pelos comentários pessoais do Gessinger sobre algumas delas, bem como as caricaturas do Andrews & Bola retratando os diversos visuais do músico ao longo da carreira.
Por fim, a terceira parte, Pra Entender, apresenta um pequeno estudo crítico de autoria de Luís Augusto Fischer, um renomado professor e crítico literário de Porto Alegre, a respeito do trabalho poético do Humberto Gessinger. É um texto interessante, sem dúvida, embora eu tenha ficado com a impressão algumas vezes de que ele não gosta realmente das letras que analisou.
Todo o design, acabamento e trabalho gráfico do livro também são muito bem feitos. É um livro colorido, impresso em papel especial, e repleto de fotos da carreira da banda, retiradas de shows, bastidores, material de divulgação e arquivos pessoais. Destaco as fotos dos instrumentos usados pelo Gessinger, muitos dos quais ele próprio montou, e que possuem pintura e alguns detalhes visuais bem interessantes, deixando-os muito bonitos.
Pra Ser Sincero – 123 Variações Sobre o Mesmo Tema, enfim, é um livro escrito para os fãs, e é claro que não se pode julgá-lo de outra forma. Para quem não gosta de Engenheiros ou do Humberto Gessinger, não há nada aqui que vá mudar a sua opinião; quem já for fã, no entanto – o que é o meu caso, como deve ter ficado bem claro -, e souber o que esperar, também não há muito com o que se decepcionar.
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