Uma senhora vestida de forma elegante, com o pescoço, pulsos e orelhas adornados por joias, entrou na loja e observou por alguns instantes os frascos expostos nas vitrines, antes de ser atendida por um dos vendedores.
– Posso ajudá-la?
– Eu gostaria de um frasco de pós-modernismo.
– Ah, sim. Venha comigo, por favor.
O vendedor a levou até o interior da loja, apontando para uma das prateleiras cujos produtos ela começou a examinar.
– Ouvi dizer que esse Foucault é muito bom. – disse, após algum tempo.
– Ah, sim. – respondeu o vendedor. – É um dos melhores. Mas, se me permite a opinião, o pós-modernismo está um pouco fora de moda.
– E o que você sugere?
– Atualmente estamos vendendo muito neomarxismo. – pausou por um instante, avaliando o interesse da cliente. – O marxismo, aliás, nunca sai de moda por aqui, especialmente entre os jovens.
– Ah, mas eu queria alguma coisa diferente, sabe? Algo que me desse um certo ar de superioridade moral, como uma verdade absoluta.
– Bem, posso lhe mostrar algumas das nossas linhas reacionárias e conservadoras. Temos liberais e autoritárias, de acordo com a preferência do cliente. Sempre vendem bem, apesar de poucos admitirem que usam.
– Ah, sim. Acho que vou dar uma olhada.
O vendedor levou a senhora até uma estante do outro lado da loja, onde ela examinou os frascos expostos em uma das prateleiras. Experimentou algumas das fragrâncias, e afinal se decidiu. Agradeceu ao vendedor e se dirigiu ao caixa para pagar a compra com o cartão de crédito, então pegou a sacola e foi embora.
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