A luz que vinha de fora iluminava os vitrais coloridos, tornando ainda mais belas as figuras retratadas. Ao fundo, alguns raios de sol iluminavam o mar de velas ante à réplica da cruz. O silêncio se espalhava como o vento por todos os cantos do aposento; um ar místico quase pagão pairava sobre a igreja naquele momento.
E ele estava lá, sentado, olhando para os vitrais, exatamente como fazia todos os dias naquele horário. Naquele dia em especial, no entanto, um padre sentou ao seu lado.
– São bonitos, não? – perguntou, tentando adivinhar para qual o homem olhava.
– Sem dúvida.
– Reconhece as passagens que eles retratam?
– Não. Não sou religoso. Na verdade, me considero um ateu.
O padre virou o rosto para ele, os olhos abertos em espanto.
– E o que um faz ateu visitar todo dia a casa do Senhor? – o tom da pergunta era de curiosidade mais do que inquisição.
– Posso não acreditar no que o teu Senhor diz, mas sei reconhecer um lugar sagrado quando vejo um. – e olhou o relógio, se despediu do padre, e saiu.
Lá fora, o barulho ensurdecedor dos carros se confundia com a poeira por eles levantada. Pessoas andavam em todas as direções, com passos apressados e o desespero refletido nos olhos. Ele, no entanto, caminhava devagar, com a expressão serena de quem teve uma revelação divina.
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