– …mas aí o carteiro já não estava mais lá! Hahahah! – e assim foram ditas, as últimas palavras do último assunto. O silêncio se estendeu pelo aposento, então pela casa, logo também pela rua. Ao redor do planeta, nenhuma palavra era pronunciada – nada havia a dizer, e todos apenas trocavam olhares constrangidos nos escritórios, nos bares, nas praças.
Passou um dia, dois, três, e novos assuntos cessaram completamente de surgir. Todos passavam suas horas em silêncio, cumprindo suas rotinas e fazendo seus trabalhos. Os telefones estavam mudos. Nos bares, mesas silenciosas enchiam-se de garrafas e copos vazios.
No quinto dia, em uma repartição pública, um estagiário ergueu a cabeça, sorridente, como quem vai dizer alguma coisa, e foi logo cercado pelos presentes, esperançosos e sedentos por algo sobre o que falar. Mas o sorriso se desfez, e ele baixou o olhar e voltou a trabalhar. Ao fim da semana, até o presidente já passava os dias solitários na sua sala, olhando para as paredes e brincando com os dedos, contando as horas enquanto esperava inquieto que um novo problema urgente surgisse para ser resolvido.
Passaram meses, e todos pararam mesmo de falar trivialidades. As pequenas frases cotidianas foram aos poucos substituídas por gestos e expressõess faciais; ninguém mais se cumprimentava ou despedia com palavras, mas apenas abanavam, sorriam, trocavam tapinhas amistosos nas costas. Ainda havia aqueles com esperanças de reverter a situação – era fácil reconhecê-los pela forma como andavam atentos, sempre alertas, se virando e olhando para todos os lados, procurando desesperadamente alguma coisa sobre a qual comentar -, mas eram menos a cada dia. O mundo esgotara todos os seus assuntos, e para trás ficara um planeta inteiro em silêncio.
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