Pequena Crítica da Razão Branca

Racismo é um tema caro pra mim porque, professor branco em uma escola com maioria de alunos negros, eu me vejo me reavaliando constantemente a respeito dele. O racismo não é natural em si, mas, numa sociedade racista, ele é muito fácil de naturalizar sem estar consciente disso.

Lembro de uma conversa com uma aluna, ela falando de uma professora que acusava ela de não saber o que é racismo por não ter estudado, descartando toda a experiência dela de menina negra. E, bem, eu estudei o racismo. Eu li o Kabengele Munanga, Petronilha Silva, Sílvio de Almeida, Muniz Sodré, bell hooks. Num plano teórico, puramente racional, eu sei o que é racismo, a dimensão estrutural e profunda que ele tem. Mas no fundo eu sou só uma pessoa branca que estuda, né? Tem uma dimensão de experiência do racismo que me vai ser sempre inalcançável.

Eu até posso entender, mas nunca vou saber de verdade o que é estar eternamente com medo de uma batida policial. Lembro a primeira vez que um amigo negro me disse que nunca saía de casa sem estar bem arrumado, com camisa pólo, tênis limpo, pra não ser confundido com um ladrão. Devia ser exagero né? Eu saía todo dia com camisa furada, bermuda surrada e chinelos, e nunca me aconteceu nada. Mas eu era um menino branco ingênuo de classe média, algo de que não tinha consciência plena na época.

Tempos depois, outro amigo negro, que também tem o costume de se vestir bem, até de um jeito meio quirky com terno, gravata borboleta e óculos, foi parado pela polícia mesmo assim.

Se fala muito no clichê de que empatia é “saber se colocar no lugar do outro”, mas eu tenho pra mim que empatia também é saber reconhecer quando a experiência do outro é única e inalcançável. Quando a única coisa que você pode fazer é ouvir, e não querer falar no lugar dele. Por isso eu acabo falando pouco disso, e prefiro no lugar apenas passar adiante o que gente mais qualificada que eu diz. Se quebro essa regra aqui, é porque também quero registrar, pra mim mesmo, esses pensamentos.

Tem algo de colonial nessa busca da universalidade da experiência, que descontextualiza o que as pessoas vivem e tenta criar uma CNTP, ceteris paribus, do mundo social. “Se branco é uma raça, também deve sofrer racismo.” Mas a realidade concreta é sempre outra.

Enfim. Peço desculpas pelo desabafo. Vou voltar a falar de joguinho e desenho japonês agora.

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Sob um céu de blues...

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