Arquivo para junho \30\-03:00 2009

O Iluminado

O mundo se revelava em um instante de harmonia suprema. As árvores mexiam vagarosamente, mais pela própria vontade do que pelo vento que as importunava. O vôo dos pássaros desacelerava até o ponto da inércia absoluta. O peixe que pulava para fora do lago parecia flutuar, o movimento interrompido como em uma estátua suspensa no ar. Todos os deuses de todos os mundos se viraram para o mesmo lugar, curiosos para observar aquele momento mais que divino, mais que mágico, mais que transcedental: um novo mestre iluminado se elevava da existência, liberto pela revelação súbita da verdadeira natureza do universo. Sentado no jardim, abaixo de um teto de madeira, sobre uma almofada envelhecida e frente a arbustos floridos, ele abriu os olhos, para o espanto generalizado de todos os seres.

– Hora de procurar algo melhor para fazer. – disse para si mesmo, levantou e foi embora do templo.

Radiata Stories

radiataRadiata Stories é um RPG eletrônico lançado pela SquareEnix e desenvolvido pelo estúdio Tri-Ace, o mesmo da série Valkyrie Profile e outros que eram lançados pelo lado Enix da empresa antes da fusão. O jogo acompanha as aventuras de Jack Russel, um jovem aspirante a cavaleiro do reino medieval fantástico de Radiata, enquanto ele se envolve com toda uma rede de intrigas e acontecimentos que irão abalar o relacionamento do reino com as nações não-humanas que existem à sua volta. É, enfim, aquela velha história de sempre – a do adolescente idealista e com mais sorte que juízo que acaba por salvar o mundo; mas é certamente desenvolvida com eficiência, com personagens bem caracterizados, algumas referências bacanas à histórias clássicas de fantasia, bons momentos cômicos, e alguns temas delicados discutidos superficialmente, como religião, moral, ética e política.

O sistema de jogo é bem legal. As batalhas ocorrem em tempo real, com o jogador assumindo o papel de Jack enquanto recebe apoio de até 3 outros personagens controlados pelo jogo, e até quatro tipos de armas diferentes que o protagonista pode usar, cada uma delas com seu próprio conjunto de golpes comuns e especiais. A parte mais divertida, no entanto, é o sistema de Links – formações especiais de batalha que os personagens assumem para enfrentar oponentes em superioridade numérica. Você pode deixar todos lado a lado para enfrentar oponentes que cheguem de frente, organizá-los em fila indiana caso os inimigos o cerquem, fazê-los cercar um único inimigo, e daí por diante. O grande contra nesse ponto é que as batalhas tendem a ser bastante fáceis, com exceção de alguns poucos chefes opcionais nas últimas side quests a serem completadas.

Até aí, no entanto, também não temos nada realmente digno de nota – outro RPGzim de videogame bacana, mas não muito além disso; o verdadeiro fator viciante do jogo é outro. Toda a cidade de Radiata e o mundo à sua volta foram construídos de forma a seguirem um padrão fixo de tempo e acontecimentos. Há um ciclo constante de dias e noites, com as horas no jogo passando à medida que você explora o mundo; as lojas possuem horários para abrir e fechar, e todos os habitantes seguem suas próprias rotinas habituais de coisas a fazer, problemas a resolver, etc. Praticamente todo personagem encontrado no jogo possui um nome e uma imagem própria, com pouquíssimas exceções, e a grande maioria deles é recrutável para o seu grupo – ao todo, são quase 200 personagens jogáveis, mais até do que a série Suikoden, da Konami.

E essa é, sem dúvida, a parte mais divertida de Radiata Stories. Principalmente para quem gosta de rolar uns d20s (ou outro equivalente) de vez enquando, acompanhar a rotina diária desse mundo fantástico, conhecendo o tempo todo novos personagens, relações e situações, é muito divertido e viciante. Então, se vocês me dão licença, eu tenho que ir visitar alguns elfos.

Obergeist – Estrada Para O Apocalipse

obergeistDe tudo que se pode criticar, xingar, desmerecer, desprezar ou o que for a respeito dos nazistas, um mérito, sem dúvida, não se pode tirar deles: a sua inegável contribuição à ficção ocidental. Não exatamente como produtores e autores de filmes, livros ou afins, mas principalmente como personagens – tanto os fatos concretos como as dezenas de milhares de histórias que surgiram a seu respeito criaram uma mitologia própria, e ofereceram uma gama de personagens trágicos e vilões sádicos tão funcionais e onipresentes que fica difícil imaginar como seriam os últimos 60 anos de filmes, romances e quadrinhos não fosse o cara do bigodinho esquisito e sua turma de alemães alucinados, de Indiana Jones a Hellboy.

Obergeist – Estrada Para O Apocalipse é um bom exemplo disso. A obra conta a história de Jürgen Steinholtz, cientista nazista que participou daqueles experimentos com cobaias humanas com a qual qualquer leitor de Hellboy já deve estar bastante acostumado. No entanto, nos últimos anos da guerra, um experimento com um judeu que demonstrava poderes sensitivos mudou a sua concepção sobre o que fazia, atormentando-o e transformando-o de cientista em experimento, terminando por levá-lo para um futuro distante onde ele pode encontrar uma chance de redenção para os seus crimes do passado.

Têm-se a partir daí uma história de super-heróis em futuros apocalípticos bem típica dos anos 90, com um tom sombrio e tenebroso, e violência gráfica suficiente para tornar justa a recomendação de capa para maiores de 16 anos. Por trás disso, no entanto, ainda é uma história interessante, bem contada ainda que apressada algumas vezes, e que trata de forma eficiente o tema da redenção e da busca pelo perdão por crimes indizíveis e hediondos. Talvez não seja a mais original ou bem realizada, mas não deixa de ser criativa e funcionar bem, ficando de recomendação para aqueles que gostam desses enredos sombrios e apocalípticos.

Delivery Service of Corpse

Capa Delivery 1.inddDelivery Service of Corpse é um mangá estranho de ver lançado por aqui. Não é nenhum fenômeno pop ou mega projeto de licensiamento como Cavaleiros do Zodíaco, Naruto, One Piece e outros tantos; e não é uma obra de público garantido como Lobo Solitário, nem que traga algum nome consagrado estampado na capa, como o de Akira Toryiama ou do estúdio CLAMP. O próprio tema dele é um pouco estranho, envolvendo cultura e religião orientais, repleta de referências a locais tradicionais do Japão e preceitos budistas; é, em um primeiro momento, uma história para otakus, ou pelo menos pessoas que tenham algum conhecimento superficial a respeito da cultura japonesa ou não se importem de ficar lendo notas de rodapé a toda hora. Mas não é uma história infantil ou juvenil – o gênero é o terror, e ela é repleta de cenas fortes e roteiros macabros, de forma que é justamente recomendada para maiores de 16 anos.

À parte por isso e pelo título nacional em inglês, no entanto, é uma série bastante original e criativa, e realmente consegue oferecer algo de novo e diferente. Os personagens principais são estudantes desempregados que, se aproveitando de algumas habilidades especiais que possuem, montam uma empresa de entregas incomum – a sua especialidade é a de descobrir e resolver os últimos desejos de pessoas mortas, sempre em troca, claro, de algum tipo de pagamento. O tema sobrenatural com toques orientais é bem interessante, e já foi mesmo inspiração pra outras coisitas largadas por aqui.

Os roteiros também são interessantes e bem bolados, carregados no humor negro e em situações bizarras, mas sem deixar de serem maduros e adultos. Muitas vezes são até um pouco pesados e sombrios, com alguns momentos meio perturbadoras. Outro ponto positivo é que não há exatamente uma mega-saga que o obrigue a comprar todas as edições em seqüência para entender o que está acontencendo; a série é feita de histórias fechadas (chamadas de “Entregas”), com começo, meio e fim, de forma que você pode comprar qualquer edição avulsa e entender o que está acontecendo. Há várias histórias pequenas no primeiro e terceiro volumes, e uma única história contínua dividida em sete partes no segundo, e imagino que os seguintes, se forem lançados por aqui (visto os problemas recentes por que tem passado a editora Conrad), devem seguir formatos semelhantes.

A arte também é bastante boa, com um traço mangá típico mas bem detalhado quando necessário; as cenas com cadáveres e zumbis são especialmente marcantes. Todo o design das edições também merecem destaque – a se notar pela capa, que se destaca facilmente nas bancas; foi o que chamou a minha atenção em primeiro lugar.

No fim, o saldo de Delivery Service of Corpse é bastante positivo. Ele consegue ir além das otakices e nipofilias e oferecer histórias bacanas, adultas e originais, com um nível de bizarro e incomum que tende a me agradar. Enfim, eu gostei, pelo menos.

Looking For Jake

c14198Bueno, acho que não preciso fazer grandes apresentações sobre o escritor britânico China Miéville – leia lá meus textos sobre Perdido Street Station ou Iron Council se quiser saber mais a respeito. Looking For Jake é uma coletânea de contos do autor, reunindo histórias publicadas anteriormente em diversos locais, além de algumas originais, inclusive uma história em quadrinhos ilustrada pelo desenhista inglês Liam Sharp.

As histórias são em sua maioria de suspense, sem tanta influência da aventura pulp que se vê nos romances de Bas-Lag, tomando Londres como cenário principal e partindo de personagens comuns que de alguma forma acabam se envolvendo com acontecimentos fantásticos; a exceção mais notável talvez seja Jack, que se passa em Bas-Lag mesmo, e também foi publicada na coletânea The New Weird. Nada disso impede, no entanto, que sejam bastante inventivas, buscando o elemento fantástico em lugares e formas inesperadas e surpreendentes: Familiar, por exemplo, na minha opinião o conto mais impressionante do livro, conta a história de um familiar místico abandonado pelo dono, partindo em uma envolvente jornada de amadurecimento e auto-descoberta; Details, que faz referência aos mitos de Ctulhu de H. P. Lovecraft, apresenta entidades sobrenaturais escondidas nas formas de rachaduras e riscos na parede; e em Different Skies é a vista de uma janela de vidro comprada em uma loja de móveis usados que revela um outro mundo.

É interessante também ver certos experimentos narrativos em alguns dos contos. A maioria deles é narrado em primeira pessoa, do ponto de vista de um dos personagens ou de alguém que simplesmente presenciou os acontecimentos, em alguns momentos ficando até um pouco repetitivos; Reports of Certain Events in London, no entanto, toma o próprio autor como protagonista e narrador, relatando o conteúdo de um pacote entregue por acidente na porta da sua casa, através do qual ficou sabendo de uma bizarra guerra secreta que acontece no submundo de ruas ao redor do mundo. Já Entry Taken From a Medical Encyclopaedia, como o próprio nome sugere, é escrito como um artigo de enciclopédia médica, descrevendo uma doença bizarra transmitida pela pronúncia de uma determinada palavra.

Outro elemento importante em quase qualquer trabalho do Miéville é o aspecto político, uma vez que o autor é um militante de esquerda que assumidamente tenta imprimir algo da sua ideologia nas histórias que conta. Foundation, por exemplo, é baseada em um fato verídico sobre a Guerra do Iraque, referenciado pelo autor no fim do livro; An End to Hunger tem uma pegada meio cyberpunk, com a revolta particular de um hacker contra um site filantrópico; e ‘Tis the Season é uma história meio irônica sobre um futuro onde até feriados como o natal foram privatizados. Nesta última, principalmente, o conteúdo político chega mesmo a ser um pouco panfletário, talvez por ter sido originalmente publicada em uma revista socialista; em geral, no entanto, eles não se sobrepõem à necessidade de contar uma boa história em primeiro lugar, e realmente colaboram em torná-las mais significativas e interessantes.

A coletânea fecha ainda com The Tain, que não é propriamente um conto mas uma pequena novela, ocupando as últimas 70 páginas do livro. Ela se baseia em um capítulo d’O Livro dos Seres Imaginários, de Jorge Luís Borges, para mostrar uma Londres devastada após a invasão de seres de outro mundo, onde um homem tenta salvar o que restou da humanidade. É uma das histórias mais fortes do livro, com um cenário pós-apocalíptico bastante impressionante, um enredo crítico que aborda a visão do conflito por ambos os lados, e aquele tipo de final devastador e inesperado que realmente a separa das demais.

No geral, Looking for Jake é um ótimo livro, como basicamente tudo o que eu li do autor até o presente momento. Poucas das histórias são insossas ou esquecíveis – mesmo as que parecem mais descartáveis contam ao menos com algum elemento inesperado e bizarro, daqueles que chamam a atenção e provocam a imaginação, e fazem valer a leitura de qualquer forma. Certamente recomendo para qualquer um que goste de supense e fantasia weird.

Vanda e Os Gigantes (2)

Vanda abriu os olhos hesitante, se recuperando do choque. Aos poucos lembrava o que havia acontecido: a batalha com a hidra no pântano sombrio, as cabeças se multiplicando cada vez que eram cortadas, a investida temerária em direção ao corpo submerso. Logo vieram as memórias do prazer da vitória, os gritos de desespero e dor do monstro entrando como notas de uma doce sinfonia nos ouvidos da moça, em seguida se juntando aos seus próprios gritos de dor e desespero ao perceber que era tragada junto ao corpo da criatura para o fundo. O ar diminuindo, os pulmões se enchendo do líquido tóxico…

Acordou assustada, e viu que não estava mais no pântano da hidra. Se encontrava em um aposento luxuoso, como um quarto de palácio, deitada em uma grande cama redonda e vestida com uma camisola de seda semitransparente, que pouco escondia seu corpo pequeno e pouco volumoso coberto de cicatrizes.

– Será que foi um sonho? Parecia tão real… – confusa, falava consigo mesmo em voz alta.

– Talvez porque tenha sido real. Você morreu. – a voz imponente vinha da entrada do quarto. Vanda se virou num susto, e viu a figura de um grande homem, o corpo negro coberto de músculos e cicatrizes, com o pescoço terminando em uma cabeça bovina envolta em chamas. – Bem-vinda a Kundali, o reino de Tauron, deus da força. O meu reino.

A garota se levantou, aturdida com a revelação. Olhou pela janela e viu o gigantesco labirinto de ruas e casas que se estendia até onde a vista alcançava; se sentia perdida apenas de olhar para elas, tentando acompanhar por mais do que alguns segundos qualquer dos caminhos que percorriam os homens com cabeça de touro e seus servos rastejantes. Tauron entrou no quarto, se dirigindo para a mesma janela por onde Vanda observava, e olhou para fora.

– Você deve saber que, quando um artoniano morre, sua alma vai para o reino de um dos deuses do Panteão. Normalmente não nos damos o trabalho de escolher quais almas irão para qual reino, mas, com algum esforço e barganha, é possível fazer com que uma delas vá para onde quisermos que vá. Mas só fazemos isso para almas de pessoas muito especiais. – virou-se para Vanda. – Almas como a sua, Vanda. Eu escolhi você para viver aqui.

– E por que eu? – Vanda se virou para o deus, e parecia falar mais por formalidade do que interesse.

– Porque você é forte, Vanda, e eu gosto de pessoas fortes. Seu corpo parece frágil e pequeno, mas esconde um espírito imbatível. Você nunca recuou ante um inimigo dezenas, centenas, ou mesmo milhares de vezes maiores do que você; sempre os enfrentou com coragem e perseverança, sem demonstrar uma gota de hesitação, apenas pelo prazer de fazê-lo. E, ao contrário do que muitos pensam, é esta a verdadeira força: não a do corpo, mas a do espírito. Eu admiro essa força em você, Vanda, e é ela que faz com que mereça a honra de viver a eternidade ao meu lado.

A garota ainda não esboçava reação. Tauron continuou.

– Não foi fácil trazê-la para cá. Outro deus gostaria de tê-la em seu reino. Diferente de mim, no entanto, ele não quer recompensá-la, mas puni-la; seu nome é Meggalokk, e ele é o deus dos monstros.

Vanda levantou a cabeça em direção ao minotauro, subitamente interessada. Ele sorriu discretamente antes de prosseguir.

– O reino dele não é um lugar agradável para pequenos humanos como você. Uma cadeia sem fim de montanhas e planaltos desérticos e acidentados, habitada por monstros cruéis e sádicos, um maior que o outro; uma terra de ninguém, onde impera unicamente a lei da força e da imposição física.

Os olhos de Vanda brilhavam a cada novo detalhe adicionado pelo minotauro: lobos grandes o bastante para se alimentarem de bois; águias grandes o bastante para se alimentarem desses lobos; tigres grandes o bastante para se alimentarem dessas águias.

– Quero ir para lá. – disse a guerreira, afinal. Tauron adquiriu subitamente um semblante sério.

– Então você recusa a honra de ser minha dama de companhia, de habitar o meu harém particular? Recusa a honra maior com que qualquer fêmea mortal poderia sonhar? – os olhos ardiam como piras funerárias; as chamas em torno da cabeça aumentavam e estalavam a cada palavra proferida como uma martelada pelo deus. Ao redor do reino, escravos de todas as raças se encolheram aterrorizados, e mesmo aqueles sacerdotes e guerreiros a quem o próprio deus proibira qualquer tipo de medo olharam para céus, trêmulos.

– Sinto muito… Mas é onde eu gostaria de estar. – Vanda permanecia serena; demonstrava apenas um pouco de surpresa pela reação que provocara.

Tauron se acalmou, e sorriu. Era, no fundo, o que esperava, se ela fosse como imaginava; se fosse realmente digna da bênção que oferecia. Aquele era apenas um último teste.

– Pois então, é para onde irá. – disse, antes de se retirar do aposento.

Vanda piscou, e, quando abriu os olhos, já não estava mais no quarto do palácio, mas em um vale alto entre montanhas. Reparou que vestia a mesma armadura que tinha enquanto viva, e carregava na cintura a mesma espada que fora de seu pai, as runas místicas brilhando com mais intensidade do que o normal. Não teve tempo de pensar muito mais: foi logo agarrada pelos ombros por um pássaro gigante, que a levantou em direção aos céus.

A guerreira se debateu e forçou-o a soltar um dos ombros; aproveitou para agarrar com aquele braço a outra pata, e forçou-a a soltar também o outro. Com dificuldade, escalou até o corpo do animal – agora era ele que se debatia, e Vanda se agarrava nas penas para não cair. Conseguiu chegar até o pescoço, e cravou a espada nele até o cabo. A ave soltou um urro esganiçado pela dor.

Vanda retirou a arma, espirrando o sangue negro para todos os lados. O animal já caía morto em direção ao chão; a guerreira não sentia mais o corpo da ave sob seus pés: estava também em queda livre, acima da criatura que acabara de abater. Via o chão se aproximando cada vez mais rápido, e, amaldiçoando a própria pressa descuidada, já imaginava se era possível morrer pela segunda vez. Não descobriu, pois a queda parou repentinamente.

Vanda olhou para baixo e viu o chão, ainda quilômetros distante; então olhou para trás e viu o par de asas flamejantes que saía de suas costas, batendo intensamente para mantê-la no ar. Observou surpresa por alguns segundos, e logo começou a voar para frente e para trás, para cima e para baixo, em círculos e elipses, sorrindo infantilmente, como uma criança que acaba de ganhar um novo brinquedo.

Deu-se por satisfeita, enfim, e desceu em uma superfície plana para observar a paisagem. Ao longe, via um enorme dragão em um vôo rasante, capturando e levantando um tiranossauro com as garras traseiras, mas que logo parava no ar, pego na teia de uma aranha ainda maior, que por sua vez mal podia aproveitar a presa antes de ser pega pela língua de um sapo mais gigantesco ainda, esmagado em seguida pela clava de um gigante humanóide ainda mais colossal. Vanda tinha um sorriso bobo de um lado ao outro do rosto, sem saber por onde começar.

Definitivamente, estava no paraíso.


Sob um céu de blues...

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