Não posso afirmar com certeza, mas desconfio que muito do meu gosto por história, que me levou mesmo a escolhê-la como curso na faculdade, vem, além dos filmes do Indiana Jones, de algumas séries de livros que eu lia quando criança sobre os povos antigos, que descreviam egípcios, romanos, chineses, astecas e outros em uma linguagem acessível, com muitas curiosidades e ilustrações. Mesmo que não consiga me lembrar exatamente o nome destas séries (#alzheimerfeelings), me lembro bem de passar às vezes tardes inteiras explorando as edições, e me recordo até do formato e imagens de capa e páginas de algumas delas. Fazia algum tempo, no entanto, que não encontrava uma nova série do tipo, que buscasse divulgar o conhecimento histórico e despertar o interesse na disciplina em um público mais amplo, através de um formato mais acessível e dinâmico do que teses acadêmicas – o que, a bem da verdade, também não significa que eu estivesse procurando muito.
E eis então que, casualmente, me deparo com esta série Guia do Viajante Pelo Mundo Antigo em destaque na livraria. Me chamou a atenção, inicialmente, pelo formato luxuoso, com capa dura e detalhes em relevo, bem como um papel grosso e de qualidade. Achei que seriam caros, mas até me surpreendi ao ver o preço – cerca de 20 reais cada um, ou até menos em algumas promoções de lançamento. Resolvi, então, levar um dos volumes, sobre a Grécia antiga, para dar uma olhada.
Como o nome bem indica, a idéia da série é apresentar os povos do mundo antigo como se fosse um guia turístico, destacando curiosidades culturais, datas comemorativas, pontos de visitação, etc. No fim, há espaço até mesmo para um pequeno glossário e guia de frases úteis em grego antigo. O formato serve de desculpa, assim, para fazer um panorama da civilização abordada – no caso, as cidades-estado gregas, e mais especificamente Atenas, no ano 415 a. C. -, com uma linguagem clara e acessível, bastante fácil de ler graças à diagramação dinâmica, com tópicos curtos e muitos quadros em destaque. Confesso que história antiga não é exatamente a minha especialidade, então posso ter deixado passar algum erro ou omissão menor, mas achei o conteúdo bem completo e detalhado, descrevendo cuidadosamente as várias áreas da cidade, com direito a diversos mapas de templos e regiões importantes, comentando questões políticas, como a guerra entre Atenas e Esparta que ocorria no período, e não evitando mesmo as questões mais polêmicas, como a prostituição e a homossexualidade.
Por outro lado, todo esse detalhamento pode representar também um ponto negativo, uma vez que pode afastar o público mais jovem do livro. Mesmo descontando-se as questões polêmicas abordadas, o fato é que o texto, apesar de acessível, é volumoso, e deixa pouco espaço para ilustrações, que em geral são pequenas e em preto-e-branco. Não sei quanto interesse teria em um livro assim um garoto de 8-12 anos, por exemplo, e se serviria para despertar nele um interesse pela história da mesma forma que os livros que eu li nessa idade serviram para mim. No fim, a série deve servir mais para um público um pouco mais maduro, que já tenha interesse pelo assunto mas busque uma leitura mais leve do que uma Claude Mossé ou Jean-Pierre Vernant.
O que não tira o valor da série para esse público, é claro. Há bastante informação e detalhes, o suficiente para satisfazer a curiosidade de alguém que queira conhecer mais sobre as civilizações abordadas – além da Grécia, vi que já foram lançados livros sobre Roma (no ano 300 d. C.) e o Egito (em 1200 a. C.). Vale a recomendação inclusive para jogadores de RPG, uma vez que pode servir como guia básico para campanhas históricas, ou mesmo para dar mais vida e detalhamento a cenários fantásticos inspirados nestes povos.
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