Acredito que todos, ou pelo menos a maioria, deve conhecer a trilogia Bourne, estrelada por Matt Damon no papel de um agente secreto desmemoriado que busca descobrir a própria identidade. A série foi baseada em uma trilogia de livros de Robert Ludlum, considerado um dos principais nomes dos thrillers de ação e espionagem na literatura norte-americana, e teve grande sucesso tanto de público como de crítica, se tornando mesmo uma espécie de novo paradigma dos filmes de ação, copiado até por franquias consagradas como Duro de Matar ou James Bond. The Bourne Identity (ou A Identidade Bourne, nas edições nacionais – recomendo a pocket lançada pela L&PM) é, como nos filmes, o primeiro livro protagonizado pelo personagem.
Eu vi os filmes antes de ler os livros, e é muito difícil fazer uma avaliação que não compare os dois, então nem vou tentar fugir disso. Como em qualquer adaptação, há várias diferenças entre ambos; pode-se dizer que a versão cinematográfica atualiza bastante o cenário dos livros, que é facilmente reconhecível como um produto da sua época, o período da Guerra Fria e da ressaca da Guerra do Vietnã. Muitos elementos que parecem tão naturais no cinema hoje em dia são consideravelmente diferentes – Bourne, por exemplo, possui muito mais personalidade e iniciativa; há até uma ponta de moralismo forçado nas suas ações, com a clara tentativa de livrá-lo de um passado criminoso. No lugar dos centros secretos de treinamentos de assassinos, há grupos secretos de militares de elite no Vietnã. E, ao invés de um antagonista impessoal como uma mega-conspiração interna do Pentágono e da CIA, aqui Bourne possui um adversário bem mais claro e independente, enquanto as agências do governo norte-americano são quase inocentadas.
E isso nos leva para aquela que é a mais marcante diferença entre o livro e os filmes – aqui Bourne de fato possui um adversário à altura da sua capacidade, que o enfrenta de igual para e igual, e não poucas vezes se mostra à sua frente. Bourne e Carlos, o Chacal, terrorista internacional treinado nas fileiras do império soviético, duelam em um longo conflito indireto, através de informação e contra-informação, blefes e apostas, cada um tentando fechar o outro na sua própria armadilha. E é esse duelo, principalmente, que vale o livro – para quem viu o filme ele começa bem devagar, já que as primeiras duzentas páginas são bem previsíveis; à medida que esse conflito vai ficando mais evidente, no entanto, e as diferenças na trama do livro e dos filmes se acentuam, a história vai se tornando mais e mais empolgante, até que que você não consiga mais largá-lo antes de chegar ao desfecho.
Enfim, The Bourne Identity é um ótimo livro, um thriller de ação repleto de surpresas, reviravoltas e cenas de tirar o fôlego. No entanto, comparando com os filmes que originou, parece ser um pouco datado, fazendo referência a conflitos e situações que já não existem mais. De qualquer forma, continua sendo uma recomendação, um livro empolgante que eu certamente não me arrependo de ter lido.
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