Marvel Noir é uma série de histórias lançada pela Marvel Comics desde 2008, e que agora chega ao Brasil com os encadernados X-Men Noir e Homem-Aranha Noir, os dois primeiros a saírem por aqui. Ela tenta reimaginar os personagens clássicos da editora em um ambiente diferente, nos Estados Unidos da década de 1930, com uma influência pesada da literatura policial da época, que viria a ser conhecida como noir no cinema devido seus ambientes escuros e violentos (para quem não sabe, noir significa preto em francês) – enfim, fazendo aquilo que eu costumo chamar de pastiche, e que eu, pelo menos, tendo a achar muito divertido.
A versão dos heróis mutantes deste novo universo Marvel possui algumas diferenças significativas para os seus originais. A mais importante é que não há super poderes – ao invés disso, os alunos da Escola Xavier para a Juventude Excepcionalmente Transviada são simples sociopatas, isolados da sociedade por não serem capazes de viver corretamente dentro dela. Isso dá margem a algumas idéias bastante toscas – em especial a tese do Professor X da sociopatia como um estágio evolucionário da humanidade, que certamente está lá apenas para manter a referência ao material original. Por outro lado, traz também algumas coisas bem interessantes, como a forma em que os poderes são reinterpretados de forma mais mundana, com destaque para os da Jean Grey e da Vampira.
Outro detalhe relevante é que os protagonistas da história não são os X-Men propriamente ditos. Ao invés disso, os roteiristas resgataram um personagem clássico da editora da década de 1940, o Anjo (não confundir o Anjo dos próprios X-Men, que tem apenas uma ponta rápida), e, além dele, a história também é contada do ponto de vista de Eric e Peter Magnus (ou Magneto e Mercúrio), aqui transformados em um inspetor corrupto da polícia e o seu filho idealista. Acho que o primeiro, principalmente, poderia ter sido trocado por algum personagem do próprio universo dos mutantes, já que acaba ficando um pouco deslocado no contexto, sem contar nas confusões devido ao seu nome; poderia ser mesmo o Jamie Madrox, por exemplo, devido a um certo “poder” dele que é revelado no último capítulo.
A parte por isso, em todo caso, a história é bem interessante, um conto policial que abraça muito bem todo o ambiente noir, sem abandonar as referências ao universo fantástico que lhe deu origem. Há espaço para um assassinato misterioso, uma femme fatale e chefões do crime, além, é claro, de dúzias de participações especiais de personagens clássicos das franquias mutantes. A história possui um desenvolvimento muito bom, com viradas ao fim de cada capítulo que te deixam com vontade de seguir lendo, e algumas reviravoltas finais bastante surpreendentes (ainda que uma delas, ao menos, seja descaradamente plagiada do filme O Grande Truque).
O volume também termina com um pequeno conto chamado Os Sentinelas, que seria uma história de ficção científica publicada em revistas pulp dentro do universo da série. É uma leitura muito divertida, pelo menos para quem acompanhou os personagens a vida toda – é escrita propositadamente com um estilo tosco e exagerado, e faz referências a diversas sagas famosas e personagens do universo, do Massacre de Mutantes à Era do Apocalipse, com participação dos Sentinelas, dos Morlocks e mesmo da Fênix.
Em todo caso, X-Men Noir é um lançamento muito bacana, uma reinvenção criativa de personagens clássicos em um ambiente diferente, e muito bem executada. Além disso, foi lançado em um formato luxuoso, com papel especial e capa dura, e ainda assim com um preço até bem razoável. Recomendo para quem é fã dos mutantes.
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