All You Need is Kill / Edge of Tomorrow

neediskillA história do dia que se repete indefinidamente, sem que ninguém perceba exceto por uma única pessoa especial, não é exatamente original. A sua versão mais famosa provavelmente seja Feitiço do Tempo, clássica comédia com o Bill Murray; mas existem uma meia-dúzia de outros filmes, além de episódios de séries de TV, desenhos animados e sabe-se lá o que mais. No posfácio de All You Need Is Kill, no entanto, o autor Hiroshi Sakurazaka revela que a sua inspiração foi mesmo um tanto mais original: os jogos de videogame, em que você pode repetir uma determinada fase à exaustão, decorando cada pixel do mapa e movimento dos inimigos, até ser capaz de superá-la sem qualquer dificuldade. Para nós, os jogadores, não é nada demais apertar um botão e recomeçar; mas e para os próprios personagens representados no aparelho, como deve ser o sentimento de repetir as mesmas ações de novo e de novo e de novo até atingir a perfeição?

Essa é a situação em que se encontra Keiji Kiriya, recruta novato da Força de Defesa Unida da Terra, criada para combater os invasores alienígenas conhecidos como Mímicos. Logo na sua primeira missão ele é morto em combate, mas, após o golpe derradeiro, ao invés de simplesmente manter-se morto, acorda no dia anterior com todas as memórias do ocorrido. Após perceber o que está acontecendo – o que, obviamente, requer que ele morra mais algumas vezes -, decide aproveitar a chance que tem para treinar e se aprimorar, até ser capaz de sobreviver à batalha.

Nesse meio tempo, entra em cena a soldado das forças americanas Rita Vrataski, heroína multi-condecorada da guerra contra os invasores. Há uma razão oculta para o seu sucesso no combate aos alienígenas, que Keiji deve descobrir se quiser acabar com o ciclo de repetições; sua importância é tal que o único capítulo não narrado pelo protagonista é o dedicado a contar a sua história, e que é aproveitado também para revelar os segredos dos antagonistas (nada muito surpreendente para quem está acostumado com histórias de invasão em que os alienígenas não são o foco principal, é claro).

No geral, é uma leitura divertida, que não é especialmente profunda mas também não fere a sua inteligência. Alguns personagens secundários exageram na caricatura, e há uma reviravolta gratuita no ato final apenas para garantir um duelo derradeiro e um final agridoce; mas, na tradição das light novels orientais, o foco em geral é muito mais a ação do que propriamente o desenvolvimento psicológico de qualquer forma – não por acaso, o romance foi logo descoberto por mídias mais visuais, tendo dado origem no Japão a uma série de mangá e no ocidente a uma graphic novel e, mais recentemente, a um filme estrelado por Tom Cruise, em que foi rebatizado como Edge of Tomorrow (No Limite do Amanhã, no Brasil; uma nova edição do romance também foi lançada lá fora com o novo título). E mesmo assim a prosa tem lá os seus momentos de brilho pontual, em que alguém que entenda o sentimento de solidão causado por uma experiência tão singular é capaz de se enxergar e identificar.

Não é uma leitura ruim, enfim, e é capaz mesmo de provocar algumas idéias únicas e singulares.

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Sob um céu de blues...

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