Iniciativa 3D&T Alpha – Vias Planares

O próximo tema da Iniciativa 3D&T Alpha é viagens. Este, então, é um material antigo meu, que eu aproveitei pra revisar: uma rede de estradas conectando os planos de Tormenta, muito embora a idéia possa ser facilmente adaptada a qualquer cenário que tenha planos de existência (Planescape?). De qualquer forma, divirtam-se.

Vias Planares
Roddus Navius foi, no passado, um grande mercador viajante de Petrynia, com negócios de um lado a outro do reino, e até mesmo em algumas nações vizinhas. Constantemente viajando entre eles, corria também muitos perigos, contra os quais se prevenia da forma que podia, contratando aventureiros para fazer a segurança das caravanas; em uma destas viagens, no entanto, mesmo eles não foram suficientes, e Roddus acabou morto nas mãos de um bando de salteadores gnolls. Após o trauma da morte, enfim, como ocorre com as almas artonianas, foi para um dos planos dos deuses, e acordou para o pós-vida em Odisséia, o reino de Valkaria, deusa da ambição.
Mesmo após a morte, Roddus não conseguiu fugir da sua vocação, e logo começou a comerciar. De grande talento desde quando ainda vivo, não demorou a obter um bom sucesso. Uma questão que lhe preocupava bastante, no entanto, era a dificuldade em obter produtos de outros planos de existência – coisas como artesanato típico de Sora, frutas e alimentos de Vitália, armas de Werra, e outros que tinham razoável sucesso de vendas quando podiam ser obtidos. A compra de tais produtos dependia de magos com poder suficiente para realizar o transporte entre os planos, que cobravam preços absurdos por seus serviços, elevando também o preço das mercadorias. Era preciso uma forma de facilitar o acesso a eles, bem como de facilitar o comércio dos produtos de Odisséia nos outros planos.
Com esse objetivo em mente, o ambicioso mercador pôs-se a trabalhar. Adquiriu livros sobre a geografia dos planos; contratou magos, estudiosos e aventureiros; gastou semanas estudando e coordenando estudos. Finalmente, após muitos meses, um dos magos contratados fez a descoberta que Roddus procurava.
No início dos tempos, quando os deuses ainda eram jovens, começavam a desenvolver seus portfólios e criavam seus reinos ideais, grandes quantidades de resíduos da energia divina usada e emanada por eles se acumulou no espaço não-existente entre os planos que surgiam. Esse campo inexistente, uma espécie não-plano-de-existência, ainda estava entre os reinos dos deuses, e era acessível e navegável através de um magia simples, ensinável a qualquer mago em início de carreira, e muito menos dispendiosa do que as magias tradicionais de transporte planar. Além disso, era acessível de qualquer dos plano existentes, e, através dele, era possível também acessar qualquer dos outros planos.
Ainda havia um problema, no entanto: o acesso a esse campo de não-existência era bastante simples, mas navegar por ele, não; não havia de fato um espaço físico que o preenchesse e que permitisse o movimento como é conhecido pelos seres físicos dos planos conhecidos. A movimentação era realizada com um grande esforço mental, manipulando idéias e conceitos do ponto de partida até o de chegada. Por isso, ainda que fosse possível chegar a qualquer plano saindo de qualquer outro plano, o tempo da viagem ainda variava de acordo com a distância entre os conceitos que os separavam – uma viagem de Ordine (reino de Khalmyr) à Sora (reino de Lin-Wu), por exemplo, poderia ser feita em poucas horas; para ir de Ordine a Al-Gazarra (reino de Nimb), no entanto, seria necessário o equivalente a várias semanas artonianas. Além disso, era necessário grande prática para navegar com eficiência sob essas condições, o que mais uma vez limitaria o acesso a poucos magos treinados na travessia.
Não era o que Roddus queria, é claro, de forma que ele não se deu por satisfeito. Seguiu financiando pesquisas e buscando informações e idéias, até que, após mais alguns meses de trabalho, pediu uma audiência com Tibar, o deus do comércio que então regia Odisséia, para propôr-lhe seu mais ambicioso projeto: uma rede de vias semi-físicas construídas através desse espaço não-existente, que permitisse uma movimentação mais próxima das leis físicas tradicionais e ligasse todos os planos de existência, permitindo um comércio constante e ininterrupto.
Tibar, é claro, aprovou a idéia, e começou imediatamente a tratar dos meios necessários para executá-la.

As Vias
As Vias Planares existem através de bolhas de semi-existência, geradas através de grande magia e poder divino por magos, clérigos e até alguns deuses menores contratados especialmente para trabalhar na sua construção. Essas bolhas foram criadas para serem visualizadas como uma grande estrada pavimentada sob um céu azul-arroxeado desfocado, como se estivesse dentro de uma redoma de vidro embaçada, onde os viajantes se movimentam aparentemente de forma normal. Trata-se de uma mera ilusão, no entanto: como a própria região inter-planar onde se localizam, essas bolhas não existem de fato além de como idéias, mas permitem que a visualização da viagem se dê por termos físicos mais próximos da existência plena, fazendo com que o transporte pelo local, pelo menos aparentemente, possa ser realizado de forma muito semelhante ao que acontece nos planos físicos. Em termos mais simples, elas transformam o esforço mental necessário para se movimentar pela não-existência em um esforço sentido e realizado como um esforço físico – ou seja, permite que você de fato “ande” em direção ao seu destino. A distância aparentemente percorrida ainda depende da semelhança conceitual entre os planos de saída e chegada – viagens entre planos de conceitos semelhantes (como Ordine e Sora) requerem que uma distância física menor seja percorrida do que entre planos de conceitos muito distantes (como Ordine e Al-Gazarra). O plano material primário é o ponto eqüidistante entre todos os planos: saindo dele é possível chegar em qualquer outro plano de existência em aproximadamente duas semanas artonianas viajando a pé, o que equivale a cerca de 300km.
As vias planares, é claro, ainda não estão todas completadas. Muitos deuses demoraram para se interessar completamente, de forma que as vias que levam até os seus planos ainda estão incompletas, com diversos pontos onde não é possível realizar o transporte semi-fisicamente. Outros, ainda, simplesmente rejeitaram a idéia, não permitindo que as vias fossem construídas próximas à sua região conceitual; para chegar até eles, ainda é necessário passar por longos períodos de navegação mental. Mesmo em Arton, apesar de já existirem uma boa quantidade de vias completadas para vários planos, a viagem através delas ainda é pocuo difundida e conhecida, restrita apenas a alguns poucos magos com maior contato com os planos exteriores e que sabem da sua existência.
Nos planos onde as vias já foram construídas, no entanto, elas modificaram enormemente as relações com os mundos exteriores. A troca de produtos se intensificou, integrando-os de forma muito mais profunda do que era possível anteriormente. Além disso, também não são poucos os que notaram as possibilidades comerciais dentro das próprias vias: bares de beira de estrada fervilham a cada quilômetro percorrido; postos de reabastecimento de energia tornam possível longas viagens mesmo entre planos muito distantes; pequenas corporações de magos oferecem serviços que facilitam o transporte pela região; e, é claro, há toda a sorte de bandidos e criminosos que se refugiam na estrada, onde capturá-los é muito mais difícil.

Viajando Pelas Vias
Para entrar em uma via planar, é necessário conjurar um fetiço chamado Portal Planar, descrito a seguir.

Portal Planar
Escola: todas
Custo: 4 PMs
Alcance: padrão
Duração: sustentável
Este feitiço permite a criação do portal para as vias planares. O portal se assemelha a um buraco luminoso que corta a existência, por onde qualquer quantidade de pessoas pode passar enquanto estiver aberto, saindo na entrada da via planar daquela região, ou no grande mar de não-existência se o plano em questão não possuir uma via construída saindo dele. Dentro de uma via planar, essa magia só é possível de ser lançada nas regiões de entrada e saída de cada plano; lançá-la no meio da viagem irá simplesmente gastar PMs sem qualquer efeito. Na entrada de alguns planos, é comum que hajam magos especializados em conjurar portais para pontos importantes, cobrando um determinado preço. Caso o personagem não saiba para que ponto do plano quer que o portal de saída deve ser direcionado, o local será escolhido aleatoriamente.

Feitiços de transporte e movimentação também podem ser usados normalmente nas vias, diminuindo o tempo das viagens e permitindo levar maiores cargas de mercadorias. Muitos grupos de magos, por exemplo, ganham dinheiro oferecendo o alugel temporário veículos criados com a magia Transporte, que desaparecem assim que atingem um destino pré-determinado. Seu uso é mais complicado, no entanto, nas áreas onde as vias ainda não foram construídas: nessas regiões, além de ter a sua efetividade reduzida pela metade, será necessário ao condutor do transporte passar em um teste de Condução (especialização de Máquinas) para atingir o seu destino.
Viajar pelas vias planares é também bastante desgastante. Enquanto se movimentam por ela, qualquer indivíduo tem sua essência pouco a pouco sugada pela não-existência que o cerca, de forma que permanecer por longos períodos nas vias pode fazer com que ele seja absorvido pelo local e deixe de existir completamente. Cada quilômetro percorrido nas vias drena de um personagem o equivalente a 1 PM; caso chegue a 0 PMs, não poderá mais se movimentar, e começará a perder 1 PV por hora até ser completamente absorvido pelo não-plano. Caso algum veículo de transporte mágico esteja sendo usado para carregar os personagens, apenas aquele que o está guiando perde PMs nessa proporção. É comum encontrar postos de reabastecimento de energia espalhados ao longo das vias, que permitem aos personagens recarregarem seus PMs pagando uma certa quantia em dinheiro; outras táticas típicas para contornar o problema incluem fazer um rodízio de condutores, ou escalas para descanso em planos próximos, realizando a viagem em pequenas porções até chegar ao destino final.

Perigos Planares
As viagens pelas vias também não são livres de perigos, é claro, a começar pela própria natureza do local onde foram construídas, um mundo de não-existência física, onde nada existe de fato além de conceitos e idéias. Enquanto estão nas vias, os indivíduos cessam temporariamente de existir de outras formas, ao menos para os demais planos. Isso tem dois efeitos principais: o primeiro é que os torna impossível de ser afetados por qualquer tipo de feitiço ou ação vinda dos planos materiais – por exemplo, o personagem torna-se impossível de ser localizado ou transportado de volta das vias planares sem o uso de um portal adequado; o segundo é que qualquer tipo de dano recebido nas vias planares é muito mais profundo do que um dano físico – é um dano conceitual, que fere a própria idéia da existência do indivíduo.
O primeiro efeito torna as vias planares um lugar ideal para bandidos em fuga de quaisquer dos planos de existência. Para dar conta desse problema, muitos planos estabeleceram uma pequena polícia planar, com jurisdição para agir nas vias próximas à região do seu plano de origem, e que tem como objetivo perseguir e capturar esses criminosos, colaborando umas com as outras quando necessário.
O outro problema é muito mais grave. Qualquer um que morra nas vias planares deixa de existir completamente, de forma muito semelhante ao feitiço Nulificação Total. O seu próprio conceito deixa de existir: ele nunca mais será lembrado por qualquer pessoa no multiverso; mesmo quem estivesse presente no momento da sua morte, ao sair das vias, irá lembrar apenas de que alguém morreu durante a viagem, sem maiores detalhes sobre quem era. E, deixando de existir completamente, uma ressurreição também se torna impossível, mesmo para os deuses maiores – talvez apenas alguém com o poder de uma entidade cósmica, como o Nada e o Vazio, seja capaz de trazer de volta alguém morto dessa forma.
Outro problema existente nas vias planares é o fato de que elas não são parte integrante de qualquer dos planos de existência, o que quer dizer que qualquer um oriundo desses outros mundos irá sofrer normalmente os efeitos por estar em território alienígena. Os únicos que não sofrem esses redutores são uma fauna peculiar que habita o não-plano das vias – seres sem forma, resultado de anos de acumulação de resíduos mágicos e divinos, existentes apenas enquanto idéias e conceitos; apenas quando passam temporariamente pela região de uma das vias chegam a quase existir fisicamente, assumindo formas bizarras e incatalogáveis. Muitas vezes surgem de lugar nenhum destróem tudo o que vêem, voltando então à não-existência de onde vieram; em outras, podem mesmo a ajudar de formas diversas os viajantes que fazem a travessia.
Alguns estudiosos vêm tentando pesquisar e estudar tais criaturas, mas as descobertas até o momento são pouco reveladoras. Sabe-se que eles também se dividem em espécies, apesar de as diferenças entre uma e outra dizer respeito muito mais ao seu conceito do que à aparência que tendem a adquirir quando adentram as zonas de semi-existência, e é possível também que existam algumas espécies sencientes. No entanto, ainda não foi possível realizar qualquer tipo de contato prolongado com uma destas criaturas, de forma que não há como saber as suas motivações.

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2 Respostas to “Iniciativa 3D&T Alpha – Vias Planares”


  1. 1 Ásbel 01/10/2009 às 16:19

    Excelente, Burp.
    Me lembrou os “caminhos do rei” (ou algo assim), do livro Jonathan Strange e Mr. Norrel.
    Mas ficou bacana mesmo! =)

  2. 2 Mataro 04/10/2009 às 14:26

    Como sempre muito criativo Burp, excelene artigo.


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Sob um céu de blues...

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