Iniciativa 3D&T Alpha – A Biblioteca de Babel

Ficou decidido que o tema da vez na Iniciativa 3D&T Alpha seria livros. A seguir apresento, então, a grandiosa Biblioteca de Babel, inspirada no famoso conto do argentino Jorge Luís Borges.

A Biblioteca de Babel

A Biblioteca é uma esfera cujo centro cabal é qualquer hexágono, cuja circunferência é inacessível.
– Jorge Luís Borges, A Biblioteca de Babel

O universo, que muitos chamam de Biblioteca, é composto por um número indefinido – alguns dizem mesmo infinito – de galerias hexagonais, com vastos poços de ventilação no centro, cercados por varandas baixas. Cada uma delas é preenchida por vinte estantes, em cinco longas prateleiras em cada lado, cobrindo todas as paredes menos duas – nestas, uma passagem leva a um saguão estreito, que eventualmente termina na entrada da galeria seguinte. Em cada saguão, à esquerda e à direita, há ainda dois pequenos sanitários, um onde é possível dormir em pé, e outro para fazer as necessidades físicas; além disso, neles também se encontram as grandes escadas em espiral que descem e sobem em direção ao infinito, levando aos outros andares da Biblioteca, todos preenchidos pelas mesmas galerias hexagonais. O número de andares, como o de galerias, é indefinido: muitas lendas e histórias existem sobre o seu fim abrupto, onde uma escadaria ou saguão terminaria em uma parede lisa; outros apenas acreditam que a Biblioteca é infinita, ocupando sem sobras todo o mundo existente.

Cada hexágono é iluminado por duas pequenas frutas esféricas, chamadas lâmpadas. Na sua luz insuficiente e incessante, é possível examinar os livros que preenchem as prateleiras: cada uma das cinco prateleiras que ocupa cada parede de cada hexágono é preenchida por trinta e dois livros de formato uniforme, cada um deles com quatrocentas e dez páginas, e cada página com quarenta linhas. Essas linhas, por sua vez, são ocupadas por um alfabeto de vinte e cinco símbolos ortográficos, incluindo o espaço e os sinais de pontuação. Cada livro os dispõe de forma diferente, formando obras diferentes – não existe, em toda a Biblioteca, dois livros iguais; cada um é único na sua combinação, ainda que por vezes possam diferir apenas em uma ou duas letras perdidas em meio às suas centenas de páginas. Ao mesmo tempo, todo livro que for possível de ser escrito, em qualquer língua que possa ser articulada a partir do alfabeto da Biblioteca, pode ser encontrado em alguma das suas galerias hexagonais. Entre idiomas exóticos e há muito desaparecidos, existem mesmo aqueles que não possuem qualquer significado, sendo apenas um amontoado aleatório de letras e símbolos – um dos livros, por exemplo, é composto apenas pelas letras M C V, repetidas nesta ordem do início ao fim do volume; outro, por um grande labirinto de de letras desconexas até a penúltima página, quando subitamente dizem Ó tempo tuas pirâmides.

A Biblioteca também é habitada por uma população própria de bibliotecários, que vivem e se organizam em meio aos livros. Em média, há um homem ou mulher para cada três hexágonos, muito embora o suicídio e as enfermidades pulmonares tendam a diminuir essa proporção. Ninguém, no entanto, conhece a origem da Biblioteca ou quem escreveu todos os livros que nela se encontram, ainda que existam aqueles, conhecidos como inquisidores, que precorrem dia e noite as galerias em busca da resposta a esta pergunta. Diversos outros grupos e seitas também são comuns entre eles, seja para adorar o conteúdo enigmático de algum livro misterioso, seja para cumprir outros objetivos diversos, desde encontrar o mítico catálogo geral da Biblioteca, que possui a localização e descrição de todos os livros que nela existem, até destruir todos os livros cujo conteúdo seja ininteligível, deixando intactos apenas aqueles que possuam algum significado.

Aventuras na Biblioteca
Muitas razões podem levar um grupo de personagens a procurar a Biblioteca. Ela contém todos os livros possíveis de serem escritos – logo, certamente conterá aquele cujo conhecimento eles precisem para salvar o reino, derrotar o vilão ou apenas ganhar mais poder. De previsões do futuro a grimórios de magia, tudo pode ser encontrado em alguma das galerias hexagonais que a formam. Assim, tomando de alguma forma conhecimento da sua existência – seja por histórias de bardos, lendas entre bibliotecários comuns, ou informações encontradas em outros livros -, será perfeitamente natural que queiram ir atrás dela.

O primeiro grande desafio, então, será o de chegar até lá. Como é de se imaginar dadas as suas proporções, a Biblioteca não pode ser encontrada fisicamente em qualquer mundo – ela própria é todo o mundo onde está localizada, compreendendo um plano de existência à parte, uma espécie de plano elemental dos livros. Uma aventura inteira poderia envolver apenas a busca pelo feitiço de transporte planar que os levará até lá, ou pelo portal mágico secreto no fim da Masmorra da Morte (ou outra equivalente) que os transporte para o hall de entrada.

Uma vez que tenham entrado, será a hora de ir atrás do livro que contém o conhecimento que procuram. Outra tarefa complicada: na infinidade de livros que compõem as galerias, encontrar um único exemplar específico é praticamente impossível! Não só a ordem geral de catálogo não pode ser facilmente deduzida – até porque, em séculos de existência, muitos volumes foram trocados de lugar -, como a grande maioria dos livros será completamente ininteligível aos personagens. Assim, qualquer tipo de pesquisa na Biblioteca possui uma dificuldade acima de Difícil: requer pelo menos um dia inteiro e um teste de H-6 para personagens que possuírem uma perícia adequada (como Investigação, ou uma especialização conveniente de Ciências), e H-10 para aqueles que não a possuírem.

Uma pesquisa cuidadosa, no entanto, que gaste seus dias ou semanas atrás do livro desejado, possui melhores chances de ser bem sucedida. Uma aventura na Biblioteca, assim, na maior parte das vezes se desenvolverá com os personagens atrás de pistas que facilitem a busca pelo volume que procuram, interrogando os bibliotecários, tentando decifrar padrões de organização, buscando nas prateleiras os catálogos que revelam o conteúdo de uma determinada área, etc. O sucesso nestas missões secundárias, que podem depender de roleplay e outras habilidades dos personagens, renderá bônus diversos no teste final, tornando possível encontrar o livro desejado.

E não pense, é claro, que as investigações serão monótonas! Muitos perigos podem espreitar os personagens entre as galerias da Biblioteca: seitas secretas, influenciadas por um livro misterioso, podem tentar impedir o seu sucesso; volumes abertos sem cuidado podem invocar criaturas demoníacas, que os atacarão assim que se materializarem; e até mesmo, quem sabe, o livro que procuram pode estar escondido em uma galeria proibida, onde um grande dragão-traça montou o seu covil.

Alternativamente, além de um novo elemento em jogos já em andamento, a Biblioteca de Babel também pode ser a própria ambientação de uma história inteira, como um cenário de campanha individual. Os personagens, nesse caso, seriam bibliotecários nativos dela, buscando desvendar os seus segredos escondidos, e se envolvendo as intrigas e conflitos entre as diversas seitas que a ocupam.

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