Rogue Galaxy

Rogue Galaxy foi anunciado como o último grande RPG do Playstation 2. A tendência, a partir dele e na verdade já de algum tempo antes, foi que cada vez mais os jogos do console sofressem com orçamentos reduzidos, equipes de segundo escalão e adaptações limitadas, enquanto os verdeiros esforços passaram a ser concentrados nos consoles de nova geração, seguindo a tendência natural da obsolescência programada do entertenimento eletrônico.

Mas isso não vem tanto ao caso; talvez este não tenha sido realmente o último grande suspiro do PS2, mas, se foi, ao menos foi também uma despedida bastante digna. O jogo sofre, claro, com boa parte dos problemas e mesmices típicos dos RPGs eletrônicos, que têm sido marcados nos últimos tempos por uma estagnação criativa fruto do sucesso comercial de algumas séries ainda do tempo do primeiro Playstation; mas ainda assim consegue ter alguns bons sopros de originalidade e destacar-se em meio a um mar de jogos com temas e características tão semelhantes, além de ser suficientemente divertido para passar por cima disso tudo.

Bueno, o jogo conta a história de Jaster Rogue, o nosso jovem-espirituoso-que-parte-em-uma-aventura-para-salvar-o-mundo da vez – exceto que desta vez o “mundo” não se trata apenas de um planetinha fantástico qualquer, mas sim um sistema estelar inteiro deles, entre os quais você viaja em uma caravela espacial à lá Spelljammer. Na prática, no entanto, isso não faz muita diferença: pegue o seu RPG eletrônico padrão favorito, troque as cidades por planetas, e você já entendeu bem como o roteiro do jogo se desenvolve. Por mais clichê e previsível que seja, no entanto, a história do jogo consegue ser uma boa história clichê e previsível – é bem contada, tem personagens carismáticos, e alguns bons momentos realmente marcantes. Além, claro, de ser uma história sobre piratas, que sempre são legais – ainda mais quando são piratas espaciais.

Quanto ao sistema de jogo, Rogue Galaxy não utiliza um sistema de batalha por turnos, como é tradicional no gênero – como tem sido comum nos jogos mais recentes, os combates ocorrem em tempo real, com o jogador assumindo o comando de um dos personagens enquanto os demais são controlados por uma inteligência artificial, através de alguns comandos simples e pequenas customizações gerais. Você pode escolher controlar qualquer dos personagens, não se limitando apenas ao Jaster; no entanto, alguns deles possuem um estilo de jogo um pouco diferenciado, de forma que é provável que você acabe escolhendo ficar com ele a maior parte do tempo. Já os inimigos são bastante fortes – você frequentemente se verá gastando boas doses de itens de recuperação e ressurreição, mesmo em combates aleatórios nas masmorras imensas do jogo. No entanto, como a qualquer hora é possível parar a batalha, examinar a situação e pensar calmamente em qual item ou habilidade usar, isso nem sempre se traduz em dificuldade de fato – as únicas vezes que vi a tela de Game Over foi em algumas batalhas contra chefes quando só era possível utilizar um personagem, de forma que, se ele morresse, não haveria ninguém para ressucitá-lo.

Outro aspecto interessante do jogo é a forma como praticamente tudo nele envolve as dezenas de itens que você recolhe em batalha, compra em lojas ou acha em baús escondidos. O sistema de evolução, por exemplo, se dá através da combinação de itens em uma grande tabela de habilidades possuída por cada personagem – muitas vezes, inclusive, você consegue notar na própria animação da técnica usada os itens necessários para adquiri-la. Logo nos primeiros capítulos se ganha ainda acesso a uma fábrica onde é possível combiná-los e, assim, criar ainda mais itens diferentes. Em certos momentos, para avançar a história, é preciso usar em alguns locais itens específicos que estão no seu inventário; e eles também são necessários para fazer aparecer os oponentes da side quest de caça-recompensas. Mesmo as armas também podem serem combinadas para tornarem-se mais poderosas. Como resultado, muito raramente é interessante vender os itens adquiridos, mesmo aqueles que parecem não ter qualquer utilidade, frequentemente gerando problemas de dinheiro para seguir adiante; e boas horas de jogo são gastas em legítimas caças ao tesouro para encontrar os itens que você precisa – o que ajuda a criar um clima bem legal para um jogo que se diz justamente sobre piratas.

Há apenas um mini-game no jogo, em que você deve coletar insetos pelo mundo para montar um time e competir em um jogo de estratégia, em um misto de Pokémon e wargames de miniaturas. É um joguinho simples mas, por isso mesmo, bastante divertido, e que tem o bônus ainda de que é possível disputar com um amigo em partidas para dois jogadores, cada um com seus respectivos times carregados de um memory card.

Todo o aspecto de apresentação também merece um destaque à parte. O som é perfeito, com um trabalho de dublagem praticamente sem erros. A trilha sonora é outro destaque – longe de um Yasunori Mitsuda, claro, mas com algumas faixas realmente marcantes. Os gráficos são bastante detalhados e bem coloridos, como se esperaria como um jogo da última geração do PS2, e os personagens possuem modelos bastante bonitos em estilo anime/mangá – alguns, aliás, parecem saídos direto de uma obra do Osamu Tezuka. E é interessante notar como praticamente não há loading dentro dos mapas – excetuando-se aí mudanças muito bruscas de cenário (como nas viagens entre planetas) e o tempo para carregar um jogo salvo (que realmente é demorado), todos os momentos em que um novo cômodo ou lugar precisaria para ser carregado são mascarados com um elevador, um corredor um pouco mais longo ou uma porta automática que demora alguns segundos para abrir; mesmo as batalhas, ainda que aleatórias, acontecem direto no mapa de jogo, sem nenhum tipo de tela de transição.

Enfim, Rogue Galaxy peca em muitos momentos por ser um RPG excessivamente típico, mas nem por isso deixa de ser um jogo interessante e em muitos momentos cativante, com méritos que, acredito, conseguem ultrapassar as falhas. Fãs de animes de ficção científica e RPGs eletrônicos que ainda não estejam excessivamente enjoados dos seus clichês certamente vão apreciá-lo, e mesmo quem já estiver começando a se saturar pode ainda achá-lo suficientemente divertido.

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